O olhar fotográfico de Dimas Guedes

A fotografia é uma linguagem artística baseada na técnica de criação de imagem a partir da exposição à luz, sendo a imagem fixada em uma superfície sensível. A origem da palavra fotografia vem do grego “fós”, que significa luz, e “grafis”, que significa desenhar, sendo basicamente “desenhar com luz”. Sua origem vem de experimentos como a câmera escura, que já era conhecida na Grécia desde o século IV a.C. Esse aparelho é uma caixa revestida internamente de preto, com um furo em um dos lados, por onde passam raios de luz, projetando no lado oposto – em branco – uma imagem invertida de objetos iluminados em seu interior. No período do Renascimento, os artistas já usavam esse recurso para representar elementos através do desenho e da pintura. Um detalhe é que nesse período não era possível registrar as imagens de forma permanente em um suporte, pois não existia uma maneira de fixá-las. A primeira imagem permanente registrada em um suporte por meio da ação da luz foi feita pelo francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1826, utilizando uma placa metálica recoberta com uma substância sensível à luz chamada betume. Essa placa ficou exposta por cerca de oito horas a raios de luz, projetados em uma câmera escura ao longo do dia. O processo de registrar imagens por meio da luz se tornou comercial no final da década de 1840 (MEIRA, 2015).

Com o passar do tempo, as técnicas de fotografia foram se aprimorando e se tornando mais populares e acessíveis até chegarmos aos dias atuais com a fotografia digital.

Hoje vamos conhecer o trabalho do fotógrafo Dimas Guedes e seu olhar para as cenas do cotidiano, que nos revelam a beleza da simplicidade, captadas com muita sensibilidade e técnica.

Dimas Guedes (1944) é natural da cidade de Guaraciaba (MG), mas vive e trabalha em Ouro Preto (MG). Guedes é formado na área de Geologia pela Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde foi professor até 1995. Também trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) durante dez anos (1979-1989). A fotografia o acompanha desde os tempos de estudante nas repúblicas de Ouro Preto, cidade sempre presente em seus registros. O artista tem como tema de suas obras as cenas de rua e as pessoas, abordando também outras temáticas. Em sua trajetória como fotógrafo, realizou diversas exposições e publicou vários livros.

Em 2014, o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, atual “CâmeraSete”, espaço da Fundação Clóvis Salgado dedicado à fotografia, recebeu a exposição ‘Um Mesmo Olhar’, apresentando cem obras de Dimas Guedes produzidas a partir de 1967. A exposição foi uma retrospectiva dos mais de 40 anos de fotografia de Guedes. A mostra contava com fotografias em preto e branco de Ouro Preto e com fotografias coloridas e em suporte digital mais recentes, realizadas em vários países do mundo, como Itália, Egito e Marrocos, registrando as culturas locais. Em ambos os tipos de fotografias, Guedes imprime o mesmo olhar para o dia a dia e para a simplicidade das cenas. Segundo o curador e filho do artista João P. Dumas Guedes, “em Ouro Preto ou fora, as fotos do meu pai sempre concederam um enorme privilegio às figuras humanas, sobretudo quando apanhadas em meio às atividades e distrações cotidianas”.

Observe as imagens a seguir.

Você já presenciou cenas como estas em seu dia a dia? O que estas imagens representam? Veja como as cenas são comuns, mas carregadas de significados.

Figura 1: “Contemplação de Ouro Preto”, Dimas Guedes, 1972. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS
Figura 2: “Cena de rua”, Dimas Guedes, 1969. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS
Figura 3: “Menina na janela”, Dimas Guedes, 1970. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS
Figura 4: “Marrocos”, Dimas Guedes, 2008. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS

Figura 5: “Alaska”, Dimas Guedes, 2009. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS

Figura 6: “Egito”, Dimas Guedes, 2010. Fonte: Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”, 2014, FCS

Mais do que conhecimento técnico, a arte requer sensibilidade e capacidade perceptiva para captar ou criar imagens, que podem ser carregadas de sentimentos, de conceitos, e despertar emoções das mais variadas. Em nosso cotidiano nos deparamos com muitas imagens e acontecimentos que às vezes nos “escapam” ao olhar. Dimas Guedes nos mostra como uma cena simples pode ser carregada de poesia e ao mesmo tempo provocar reflexões sobre o lugar onde vivemos e o que nos cerca.

Experimente registrar cenas do seu dia a dia, as imagens que mais te tocam, que possam despertar alguma curiosidade em quem as vê, revelar a beleza ou mesmo fazer refletir sobre o que nos cerca.

Curiosidade:

O artista possui 31 obras no acervo da Fundação Clóvis Salgado, se configurando um grande conjunto de trabalhos, que contribui para a diversidade do mesmo.

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Referências:

Arte De Toda Gente – Bossa Criativa / Mostra Ouro Preto / Apresentação/ Fotografia em Ouro Preto. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FdtCXxcCUDU> Acesso em: 18 abr. 2022.

Catálogo da exposição “Um mesmo olhar – Fotografias de Dimas Guedes”. Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Belo Horizonte/MG. Fundação Clóvis Salgado, 2014.

MEIRA, Beá. Arte: do rupestre ao remix. Editora SCIPIONE, 2ª ed., 2015.

Site do artista Dimas Guedes. Disponível em: <https://dimasguedes.wordpress.com/about/>. Acesso em: 12 abr. 2022.

Sobre o autor:

Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.