Dados Técnicos
Autor: Jarbas Juarez
Título: Nu
Técnica: Aquarela sobre papel
Dimensão: 33 x 24 cm
Ano de Execução da Obra: 1978
Jarbas Juarez Antunes, nascido em Coqueiral, Minas Gerais, no ano de 1936, é um artista múltiplo, pintor, escultor, gravador, desenhista, designer gráfico, muralista, ilustrador, professor e jornalista. Foi aluno da Escola Guignard na década de 1950 e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1964, local no qual tornou-se professor da Escola de Belas Artes e lecionou entre 1967 e 1994. Jarbas traz em suas produções um processo investigativo, explorando diversos materiais – sucatas, tecidos, papéis, resinas e tintas – e suas temáticas estão continuamente voltadas ao ser humano, suas relações e formas de trabalho.
Em sua obra “Nu”, de 1978, a figura feminina é a protagonista, papel dado frequentemente às mulheres nos trabalhos de Juarez. O retrato mostra uma pessoa adulta com características femininas, nua, sentada em um pano. A obra traz a suavidade que acompanha a técnica da aquarela. A utilização da tinta sobre papel proporciona transparência e sobreposição de camadas claras, que transmitem leveza. A água que permite o deslizar da tinta flui pelo suporte, imprimindo decisivamente formas e identidade. No jogo de cores de “Nu” destaca-se o azul-esverdeado, predominante na figura feminina, mas que partilha o espaço com o branco, que indica os pontos em que a luz bate, de sua esquerda para a direita.
Os traços reais da feição, como marcas de idade na região dos olhos e covinha em seu queixo, combinam-se com olhos, sobrancelhas, nariz e boca reduzidos de tamanho. A alteração na proporção real encontra-se não apenas no rosto como em várias partes do corpo, nos antebraços, panturrilhas, pescoço e ombros. Essas distorções são características marcantes das figuras do artista ao longo de sua produção. Em entrevista ao jornal O Tempo, em 2019, Jarbas revelou sua percepção sobre a importância da criatividade na produção artística:
Não pinto a realidade, nada que é natural me interessa. Querer pintar a realidade é copiar, e a cópia é uma coisa vazia, sem valor. O poder criativo é trabalhar a nossa percepção sensorial. Pinto a minha realidade. Tudo o que fiz até hoje são coisas fictícias. (VIDIGAL, 2019).
É visível como a personagem está em uma posição de conforto, como reflete suas costas encurvadas, seu braço esquerdo posicionado entre suas pernas e seus dedos do pé direito levantados, como se estivesse os esticando. O rosto em formato retangular, com os cabelos ondulados, se vira para o lado, sugerindo uma direção, mas os olhos estão em outra, transpassando a ideia de estar distraída e pensativa, de forma espontânea.
A composição da obra remete a uma cena cotidiana após o banho, em que o tempo parece se congelar e as atividades diárias e devoradoras são brevemente esquecidas. Quem nunca repensou a vida durante o banho e, logo após desligar o chuveiro, se sentou na cama, com a toalha encharcada, e se manteve imóvel, mesmo sabendo que a umidade da toalha poderia umedecer o colchão e impedir a plenitude do sono logo mais a noite. O olhar se perde ou se encontra fora do quarto, voa através de uma janela, que transcende muros, permite não pensar em nada e pensar em tudo. Esse momento de pausa, em que se lembra daquela briga com a irmão no natal de dois mil e oito, quando não foi possível responder, mas que nesse momento todas as respostas aparecem na memória, como se fosse possível voltar no tempo e alterar aquela situação.
Assim, a obra do acervo da Fundação Clóvis Salgado (FCS) é um dos pontos de partida da CHAMA: tramas – 8ª Mostra da Escola de Artes Visuais – Cefart – FCS, ao remeter ao conjunto de fios que se entrelaçam por meio do quadro atrás da mulher. Ao mesmo tempo, a aquarela permite pensar na trama como os encontros do artista com pensamentos ou com pessoas. A partir disso, surgem questionamentos como: seria esse um registro que constitui a trama de vida de Jarbas? Qual a identidade da mulher que o inspirou? Quais pensamentos passam pela mente dela naquele momento?
A nudez expressa não é sexualizada, é apresentada como um corpo por baixo das roupas que vive, locomove e também descansa. O artista, portanto, conseguiu captar um momento de relaxamento, no qual não há necessidade em esconder as dobras da barriga ou as costas encurvadas, um corpo real que foge das referências estéticas magras, bronzeadas e tonificadas dos anos 1970 e se apoia em sua existência. Essa é uma arte que mescla a criatividade e a identidade de Jarbas com a realidade, produzindo uma cena facilmente identificável.
Referências:
JARBAS Juarez. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa4074/jarbas-juarez. Acesso em: 1º abril 2022. Verbete da Enciclopédia.
MATERNIDADE, Belas Artes. Arte (a) Caminho, 2021. Disponível em: <https://arteacaminho.com/belas-artes/maternidade/>. Acesso em: 16 mar. 2022.
VIDIGAL, Raphael. Pintor Jarbas Juarez fala sobre sua trajetória. In: O TEMPO, Contagem, 4 março 2019. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/diversao/pintor-jarbas-juarez-fala-sobre-sua-trajetoria-1.2143446>. Acesso em: 16 março 2022.
Mariana Guieiro é artista plástica, assistente social, pós-graduada em políticas públicas e estudante do Curso Básico de Curadoria do Cefart – FCS.
Pri Garcia é professora de produção de audiovisual, atua como diretora cinematográfica e fotógrafa. É também estudante do Curso Básico de Curadoria do Cefart – FCS.
Victória Brandão é graduanda em Museologia pela UFMG, com interesse em pesquisa e comunicação de coleções artísticas, e estudante do Curso Básico de Curadoria do Cefart – FCS.