Ocupa, pintura!

A pintura perdeu a graça? Poderíamos responder essa pergunta observando as mudanças radicais sofridas por ela, decorrentes tanto da fotografia quanto da arte conceitual e, em certo ponto, diríamos que sim. Mas será mesmo que a pintura está sem um “lugar ao sol”?

Se, por um lado, a arte conceitual tem predominado em exposições nos centros culturais, com suas instalações, fotografias, vídeos e ready-mades, nos espaços digitais, com destaque para a rede social Instagram que apresenta novas imagens 24 horas por dia, o lugar ocupado pelas artes plásticas demonstra que a pintura nunca esteve tão em alta.

Nunca se viu tantos pintores expondo seus processos, suas técnicas e sua disciplina criativa como temos visto nas redes sociais atualmente. Analisando essa manifestação espontânea de artistas do mundo todo por meio da internet e as escolhas de exposições em centros culturais, podemos perceber abordagens e interesses dissonantes.  

Fabiano Millani, pintura a óleo. Fonte: Instagram do artista.

A pintura é o repertório imagético da história. Nela encontramos referências de culturas, de comportamentos, de moda e de momentos históricos relevantes. À medida que a arte caminhou para a desconstrução dos padrões acadêmicos e as tecnologias de reprodução de imagens passaram a fazer parte dos processos criativos e de produção de artistas, a pintura também sofreu impactos e um certo desprezo.

A arte feita nas fábricas com materiais industriais ganhou uma expressiva preferência. No entanto, a pintura sempre permeou o imaginário popular como uma das mais importantes linguagens artísticas. Gêneros como o hiper-realismo e a pintura fantástica, por exemplo, têm atraído muitas pessoas para as páginas de artistas que atuam nessa linha. É natural as pessoas gostarem de pinturas mais realistas do que abstratas. Em geral, tendemos a buscar identificação e uma relação com a beleza e com o mundo por meio das artes, e as pinturas com figurações são mais diretas nesse diálogo entre espectador e obra. As ferramentas de edição e montagem ofertadas pelas mídias sociais proporcionam, para as pinturas, algo intrínseco ao nosso tempo que é a necessidade de dinamismo e movimento. Pintores criam vídeos apresentando seus trabalhos e suas performances gestuais ao pintar e isso aproxima o artista da vida comum e de pessoas comuns, demonstrando que pintura é um ofício. Hoje em dia também podemos ver as pinturas clássicas bem vivas, vibrantes nas telas de nossos celulares, retiradas de sua condição estática e bidimensional em montagens audiovisuais bem orquestradas com movimento, som e música.

Os artistas que têm movimentado as redes sociais possuem essa característica da pintura mais figurativa, com apelo ao realismo e dedicação e disciplina motivadoras. Além disso, boa parte deles cria cenas bem naturalistas, com imagens contemporâneas e anatomias reconhecíveis com figuras do nosso tempo. Os padrões estéticos são relacionados à mídia, ao cinema e às próprias redes sociais. Tudo indica, com essa onda de pinturas nas mídias digitais, que ela tão cedo não perderá a graça nem se esconderá somente nos ateliês.

A pintura tem uma característica especial: ela é uma peça única, uma realização pessoal do artista que permanece através dos tempos como um símbolo de individualidade, de exclusividade, mas que se comunica sensivelmente com o coletivo.

Dicas de hashtags para encontrar pinturas no Instagram:

#painting #hiperrealism #contemporarypaintings

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.