RASTROS DE MEMÓRIAS, VESTÍGIOS DE LEMBRANÇAS

Palavras-chave: 

Memórias; Vestígios; Histórias; Lembranças; Recordar; Passado; Arte.

Memória é uma evocação do passado. É a capacidade humana para reter e
guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A
lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará jamais […]
(CHAUÍ, M. Convite à filosofia, 2005, p. 138).

 

Memórias se alimentam de lembranças, experiências e histórias vividas. São marcas que se transformam em vestígios e rastros. Por isso, recordar é caminhar de volta ao passado, é voltar a trilhar as paisagens e histórias que marcaram a nossa trajetória.

A memória é algo pessoal, e revisitar as nossas memórias é adentrar num lugar que faz parte de nós e, ao mesmo tempo, está fora de nós, guardando as nossas mais preciosas e valorosas lembranças. Com o passar do tempo, as lembranças vão criando novas versões, transformando-se, mudando, ganhando novos significados, criando camadas e, com isso, vão se tornando protagonistas ou perdendo o protagonismo de acordo com as nossas vivências.

Como diz Vinicius de Morais, há vivências que são “como um pássaro no museu de memórias […]”. De fato, nossas memórias estão guardadas numa espécie de museu de lembranças. Esse pássaro de Vinícius é uma alusão às fantasias das lembranças e também ao trabalho de arquivador do artista da imagem. Portanto, a fantasia é uma disposição do espírito do artista que é despertada em nós por meio de suas obras e as vivências psíquicas. 

A memória e a fantasia fazem parte do processo criador e, assim, é possível dizer que, por exemplo, quando percebemos uma cor de uma obra de arte, temos a consciência dessa cor, mas à nossa maneira, isto é, como vivência pessoal. Isso quer dizer que perceber, imaginar e lembrar são atos psíquicos pessoais que exigem uma atitude transcendental. As memórias possibilitam revisitar o campo dos sentimentos, pois, por meio dos sentidos alcançamos a transcendência temporal, ou seja, ganhamos novas imagens no abandono do tempo presente, viajamos de volta ao passado e sonhamos com a expectativa do futuro. 

Tudo isso faz parte do processo criativo do artista ou mesmo de um colecionador, pois é a memória que permite que se organize uma realidade já acontecida ou que se projete algo como um futuro. Aquilo que impulsiona a criação de uma obra, ou de uma coleção de imagens, é o desejo de guardar e proteger aquilo que já se foi. E a fantasia transforma essas lembranças em, por exemplo, cores azuis e verdes envolvidas na densa floresta, ou numa mão que surge entre as flores secas, ou até mesmo no ato de infringir costuras como marcas entre as linhas das imagens-retratos. A imagem artística necessita assim de uma exterioridade comandada por técnicas de repetição ou manuseio das imagens em gestos e traços. Dessa forma, o traço é uma marca que permite uma recuperação e uma leitura, como um manuseio do vestígio da memória. O traço imputado à imagem pode sempre repetir-se, alterar-se e reiterar-se, tornando legível a preservação da memória daquele ou daquilo que já se foi. 

Nesse sentido, uma obra de arte é como um arquivo, pois tanto registra e guarda, quanto produz eventos em sua relação com o futuro, tornando as memórias ou os vestígios da memória algo que ganha a concretude do mundo e a eternidade das ausências. Afinal, as ausências tocam nossos sentimentos e nos emocionamos, pois, como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade: “as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão […]”.

Legenda:

01. “Fragmentos de uma lembrança”, Gianlluca Carneiro (2021). Pintura acrílica s/ tela.

02. “Quintal de Memórias”, Amanda Santana (2021). Fotomontagem e assemblagem.

03. “Memória de um rolê à noite”, Chris Moreira (2021). Óleo sobre tela.

04. “Gatilhos mnemônicos”, Marília Roque (2021). Fotografia digital.

05. “Memórias de uma infância”, Lipi Dama (2021). Fotografia digital.

06. “Materiais da Memória”, Lídia Nicole (2021). Fotografia digital.

07. “Cá estamos”, Isadora Canela (2020). Fotografia em dupla exposição analógica. 

08. “Isolamento”, Celtoon XR (2020). Colagem digital.

09. “Lugares de Memória”, Lucas Tarabal (2017). Desenho em: Bico de pena sobre papel com intervenções de máquina de costura e tinta guache.

10. “Toque do Eterno”, Arthur Senra (2016). Fotografia digital.

11. “Garapa”, Michelle Mayrink (2021). Fotografia digital.

12. “Minha fé e meu jogo de cintura”, Igor Cerqueira (2018). Fotografia digital.

13. “Retratos da Quarentena I e II”, Lívia Lopes (2020). Fotografia analógica.

14. “O que ainda me lembro”, Goretti Gomide (2021). Pintura sobre madeira: encáustica, pastel a óleo, nanquim, tinta a óleo. 

15. “RESISTÊNCIA: o ser, o humano, a natureza”, Junior Garcia (2021). Fotografia digital. 

16. “Saudade”, Cecília Queiroz (2021). Fotografia com intervenção de costura digitalizada.

17. “Ceci n’est pas”, Paula Lemos (2021). Fotografia digital de escultura.

Sobre os autores

Aline Ambrósio Graduada em Arquitetura e Urbanismo e em Design de Ambientes. Pós-graduanda em Arquitetura e Urbanismo, é aluna do Curso Básico de Curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.

Júnior Garcia – Fotógrafo, é aluno do Curso Básico de Curadoria da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.

Monica Bono – Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Atua como executiva de Comunicação Empresarial e artista e é aluna do Curso Básico de Curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.

Rozângela Gontigo – Doutora em Estética e Filosofia da Arte. Atua como professora diletante de Filosofia e Teatro e é aluna do Curso Básico de Curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.

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