Recostura: Chris Tigra

Não é de hoje que os artistas misturam técnicas, ocupam e estendem suas obras através dos espaços arquitetônicos, estabelecendo uma relação obra-espaço-fruidor. Muitas vezes, ao visitar uma exposição de fotografias, nos deparamos com uma proposta diferente do que havíamos imaginado. Foi o que me ocorreu ao entrar na galeria da CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, onde estava instalada a exposição “Recostura” (2020-2022), da pesquisadora e artista visual Chris Tigra, na segunda edição do Prêmio Décio Noviello de Fotografia.

Imagem 1: Da série “Recostura”, Chris Tigra, 2020-2022. Fonte: site da FCS

A começar pelo tema escolhido pela artista para desenvolver sua pesquisa, passando pelo tamanho das fotografias e como elas dialogavam entre si e com o espaço em que estavam sendo expostas: a maneira como as pessoas podem circular e dialogar com a proposta da exposição é surpreendente. A quantidade de reflexões que as imagens suscitavam e a forma como estavam expostas no espaço também era algo impactante.

Conforme o site da FCS, Chris “expõe em grande escala imagens de mulheres negras escravizadas, trazendo à tona uma memória escravocrata, por vezes renegada, e estruturalmente reproduzida até os dias atuais”. A artista intervém sobre as figuras e sobre o espaço usando costuras manuais, cordas e ataduras na cor vermelha. As fotografias trazem imagens de mulheres negras escravizadas, sem nome e sem história, feitas no período colonial, apropriadas de registros encontrados em consultas aos acervos do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional.

Imagem 2: Da série “Recostura”, Chris Tigra, 2020-2022. Fonte: site da FCS

Conforme Tigra (2020), o título da exposição – “Recostura” – se originou das palavras “escrava”, “escravo”, “escravidão” e tudo mais que deriva ou se desdobra daí. A artista iniciou sua pesquisa movida pela curiosidade de saber como, de qual forma, esse tema consta na memória oficial do nosso país. Chris se deparou com relatos sobre o assunto, registros de compra e venda de escravizados, de diferentes tipos de negociação consideradas legais para “possuir uma pessoa” com a finalidade de escravizá-la, além de desenhos iconográficos do século XVI, fotografias etnográficas sobre o negro brasileiro e sua cultura, entre outros arquivos. A artista reimprime as imagens em papel ou tecido e comenta que, com a agulha e a linha, “percorre imagens antigas tecendo novos caminhos, dando vazão a imaginários, guiando-me pelo desejo de reconexão e reação, pensando que a recostura só acontece quando algo foi descosturado. Nesses momentos eu penso na trama entre passado e presente e futuro, representado pelas pontas soltas das linhas” (TIGRA, 2022).

Imagem 3: Exposição “Recostura”, Chris Tigra, 2022, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais. Fonte: site da artista

Conheça algumas experiências relatadas pela artista no processo de montagem do trabalho “Recostura” em outro equipamento cultural clicando aqui.
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Referências:

TIGRA, Chris. Recostura. 2020-2022. Disponível em: <https://www.christigra.com/recostura>. Acesso em: 07 mar. 2022.

FCS Fundação Clóvis Salgado. 2º Prêmio Décio Noviello de Fotografia Chris Tigra e Matheus Dias. Minas Gerais, 2022. Disponível em: <https://fcs.mg.gov.br/eventos/2-premio-decio-noviello-de-fotografia-chris-tigra-matheus-dias/>. Acesso em: 07 mar. 2022.

Sobre a autora:

Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.