Palavras-chave: Resgatar; Ressignificar; Resistir.
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos que nos obrigam a relembrar e reencontrar o pertencimento. A casa se desfez, restou o muro. Nesse muro só resta pedaços frágeis que nos fazem sentir e resgatar e ressignificar. O testemunho que resiste nele vale essencialmente por aquilo que nele falta. São rastros que deixam detalhes de uma ausência entrecortada por lembranças entre a visibilidade e a invisibilidade.
A organização poética da existência pertence à memória que guarda incalculáveis tesouros espirituais e aquela beleza especial que só pertence à poesia. De acordo com Jacques Le Goff, “[o] processo da memória no homem faz intervir não só a ordenação de vestígios, mas também a releitura desses vestígios […]” (LE GOFF, 2003, p. 420). Ela também é o armazenamento de informações e fatos obtidos a partir das experiências ouvidas ou vividas, tornando-se um processo que conecta pedaços de vida e conhecimentos, a fim de gerar novas ideias e novas lembranças. Quando buscamos recordá-las, o instante vivido volta à vida e tem uma nova permanência. Memória é fluidez e sentimentos. “Fluidez”: aquilo que vem naturalmente e abre caminhos para a diversidade e atravessamentos.
O ato de esquecer faz parte da dinâmica da memória, tendo em vista que não recordamos todas as nossas experiências ao mesmo tempo, o que pode estar associado à inacessibilidade da memória. Mesmo assim, podemos acioná-la como um recurso com características mágicas que nos transporta a um mundo em que memórias podem ser vistas, analisadas, revividas, sentidas e adicionadas pelas nossas lembranças e de outras pessoas.
Além disso, vistas por outrem, essas lembranças podem ser mais completas do que a própria observação da pessoa que viveu aquilo. Um novo olhar para a memória, não mais como espelho fiel do passado pronto para ser recuperado, mas como objeto de um tempo presente em que é preciso re-existir, significar e resistir para perpetuar no tempo as lembranças perdidas.
Resgatar
Ressignificar
Resistir
Referências
LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 2003.
Sobre as autoras
Daniela Angelo, autora de joias, formada em Estilismo pela UFMG e estudante do curso básico de curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.
Erika Lima é coreógrafa, professora de Ballet Clássico e Dança Contemporânea e estudante do curso básico de curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.
Lidia Nicole é artista visual e estudante do curso básico de curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.
Lipi Dama é artista visual, graduanda em Museologia pela UFMG e estudante do curso básico de curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.
Lorena Marcelino é geóloga pela UFMG, redatora e estudante do curso básico de curadoria da Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.
Goretti Gomide é Bacharel e Licenciada em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG. Habilitada em Xilogravura, Litogravura, Desenho e Pintura. Formada em Psicologia (Licenciatura e Bacharelado), é estudante do curso básico de curadoria na Escola de Artes Visuais do Cefart | FCS.