Roberto Burle Marx: artes plásticas, arquitetura e paisagismo no modernismo brasileiro

Neste ano é comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, um marco para a arte brasileira, evento que levantou questionamentos e apresentou novas formas estéticas. Ela foi organizada por intelectuais brasileiros que planejaram uma renovação do cenário cultural do Brasil em meio às comemorações do centenário da Independência, no ano de 1922. A exposição realizada no Theatro Municipal de São Paulo contava com pinturas e esculturas, além de programação musical e da presença de escritores e poetas. Esses artistas tinham em comum a rejeição ao conservadorismo expresso nas artes brasileiras e buscavam maior liberdade de expressão. A Semana de Arte Moderna foi de grande importância e teve vários desdobramentos, tanto nas artes plásticas como na música, cinema, design e arquitetura (MEIRA, 2015).

A Semana de 22 influenciou artistas daquele período, incentivando também as gerações seguintes no desenvolvimento de novas proposições estéticas em diversas áreas das artes. Vamos destacar o artista Roberto Burle Marx, que teve grande influência do modernismo em suas obras paisagísticas e nas artes plásticas.

Burle Marx nasceu em São Paulo (SP) em 1909 e faleceu em 1994. Viveu seus primeiros anos na cidade do Rio de Janeiro. Seu interesse pelas artes surgiu quando morou na Alemanha, ao frequentar espaços culturais da cidade de Berlim e conhecer obras de grandes nomes. Estudou pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, entre 1930 e 1934, realizando seu primeiro projeto de jardim em 1932. O artista possui uma vasta e diversa produção: era desenhista, pintor, gravador, arquiteto e urbanista. No final da década de 1930, Burle Marx começou a trabalhar unindo sua produção paisagística à arquitetura moderna, construindo projetos com formas orgânicas e sinuosas. “Dentro de uma estética ligada ao modernismo, Marx criou um paisagismo tropical, com a valorização da flora brasileira” (TOFANI, 2014 apud ZANINI et al., 2017, p. 5).

Em seus trabalhos paisagísticos, o artista destacava a paisagem natural do Brasil e realizava excursões pelo país para o desenvolvimento de suas pesquisas. Em seus projetos, destacam-se massas de cor formadas por grupos de arbustos, árvores e plantas de diversas regiões do Brasil, além da união de elementos como pedras e areia, criando jardins que se assemelham a “pinturas naturais”.

Em suas parcerias com arquitetos, sobressai a integração entre arquitetura e paisagismo, tendo trabalhado com nomes como Lúcio Costa, no projeto dos jardins do Ministério da Educação e Saúde (MES), e Oscar Niemeyer, no conjunto da Pampulha.

Em suas pinturas, o artista dedicou-se inicialmente a temas como natureza-morta e retrato, estabelecendo diálogos com obras de artistas como Picasso, Candido Portinari e Di Cavalcanti. Posteriormente, começou a trabalhar com geometrismos, levando suas paisagens em direção ao abstracionismo. As obras abstratas passam a ser uma temática mais recorrente a partir da década de 1950, utilizando cores vibrantes, como azul, verde e amarelo, associadas ao desenho. Durante sua trajetória artística, Burle Marx utilizou diversas linguagens, técnicas e materiais, desde gravuras e desenhos a nanquim até tinta acrílica sobre tela, sempre inspirado pelas formas da natureza devido à sua relação com o paisagismo e a botânica.

Em 2021, seu sítio, localizado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, foi escolhido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial na categoria paisagem cultural.

Observe as imagens a seguir:

Perceba como os projetos paisagísticos de Burle Marx apresentam semelhanças com suas pinturas e gravuras, onde predominam formas sinuosas e harmoniosas.

Figura 1: Projeto do Edifício Gustavo Capanema, Roberto Burle Marx, 1938. Fonte: Burle Marx & Cia. Ltda.
Figura 2: Terraço do Edifício Gustavo Capanema, Roberto Burle Marx.
Fonte: Cintia Ramirez
Figura 3: “Campo Formoso”, Roberto Burle Marx, litografia, 63x45cm, 1991. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural. Reprodução fotográfica: Romulo Fialdini
Figura 4: “Sem título”, Roberto Burle Marx, acrílica sobre tela, 112x147cm, 1992. Fonte: Acervo Fundação Clóvis Salgado. Foto: Giovane Diniz
Figura 5: “Composição I”, Roberto Burle Marx, acrílica sobre tela, 130x162cm, 1974. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Roberto Burle Marx buscou inspiração em cores e formas da natureza. Através das imagens acima, podemos perceber que os jardins que ele projetava são como “pinturas vivas”, mostrando que suas obras têm grande influência do modernismo e que vão além, incorporando seus conhecimentos e pesquisas em botânica, tornando sua produção única.

Curiosidade:

“Sem título” (1992), de Roberto Burle Marx, uma pintura acrílica sobre tela medindo 112x147cm, pertence ao acervo da Fundação Clóvis Salgado (FCS). A obra já foi exibida na exposição “Grandes Nomes – Acervo Fundação Clóvis Salgado” em 2017, na PQNA Galeria Pedro Moraleida no Palácio das Artes. Essa exposição também fez uma itinerância pelo interior mineiro por meio do projeto “Itinerância de Artes Visuais – FCS”, ampliando o acesso do público às obras do acervo. Recentemente, a obra fez parte da exposição “Acervo FCS – Cidade Imaginária”, também na PQNA Galeria Pedro Moraleida.

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Referências:

BURLE Marx. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1461/burle-marx>. Acesso em: 07 fev. 2022. Verbete da Enciclopédia.

Exposição: Acervo FCS – Cidade Imaginária | PQNA Galeria Pedro Moraleida. Disponível em: <https://fcs.mg.gov.br/eventos/exposicao-acervo-fcs-cidade-imaginaria-apresenta-ao-publico-diferentes-perspectivas-do-espaco-urbano/> Acesso em: 16 fev. 2022.

MEIRA, Beá. Arte: do rupestre ao remix. Editora SCIPIONE, 2ª ed., 2015.

Sítio Roberto Burle Marx é escolhido como Patrimônio Mundial da Unesco. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-07/sitio-roberto-burle-marx-e-escolhido-como-patrimonio-mundial-da-unesco>. Acesso em: 21 fev. 2022.

ZANINI, Bruna Inês; MORSCHBACHER, Jéssica Aline; COELLI, Laura Santos; GIOLO, Mariana Lucatelli; ANJOS, Marcelo França dos. Arquitetura MODERNA brasileira: O paisagismo de Burle Marx. Anais do 15º Encontro Científico Cultural Interinstitucional e 1º Encontro Internacional – 2017 ISSN 1980-7406. Disponível em: <https://www.fag.edu.br/mvc/assets/pdfs/anais-2017/J%C3%89SSICA%20ALINE%20M%C3%96RSCHBACHER-jessicamorschbacher@hotmail.com-1.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2022.

Sobre o autor:

Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.