Roy Lichtenstein e a arte de transformar o ordinário em extraordinário

O artista estadunidense Roy Lichtenstein é considerado um nome expressivo do movimento Pop Art dos anos 1950/60. Participante ativo do movimento que enaltecia a cultura de massas e criticava a sociedade consumista do pós-guerra, realizou trabalhos interessantes que monumentalizavam a linguagem dos quadrinhos com obras em estilo mais refinado, acadêmico.

Em suas pinturas, muitas em escalas grandiosas, Roy transferia imagens/recortes de cenas de histórias em quadrinhos para as telas e as convertia em pinturas utilizando técnicas das artes plásticas em vez de técnicas gráficas típicas das tiragens de Histórias em Quadrinhos (HQs).

“Ohhh…Alright…”, Roy Lichtenstein, 1963-1964. Fonte: Wikiart.

Ao realizar pinturas com temáticas banais e subverter a lógica de produção dos quadrinhos, o artista “coloca um holofote” sobre algo cotidiano, dando outra dimensão para aquilo que era considerado banal.

Roy empregava, em muitas de suas telas, a técnica pontilhista para que as obras parecessem mecanicamente reproduzidas, pixeladas. Os pontos conhecidos como Ben Day eram frequentemente utilizados em processos de impressão em massa. Ele imitava, detalhadamente, a aparência das imagens reproduzidas comercialmente.

Suas telas inspiradas na mídia de massa deram aos quadrinhos o status de obras típicas de estarem em museus. Ao se utilizar de recortes de uma narrativa, Roy os retira do contexto e deixa em aberto interpretações mais subjetivas do espectador. Afinal, um quadrinho isolado da história em que faz parte não mais tem significado em relação aos demais que lhe dariam sequência, passando a ser meramente um flash de informação.

Podemos dizer que as obras de Roy se assemelham, em certa medida, ao que notamos hoje em dia nas redes sociais repletas de imagens, às vezes aleatórias, sem identidade e desumanizadas, meramente ilustrativas e atrativas, que não contam nada de relevante e abrem caminhos para variadas interpretações. Roy Lichtenstein certamente foi um visionário e um mestre em transformar o ordinário em extraordinário.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.