Trama, um conjunto de fios

Estudantes do Curso Básico de Curadoria, ao longo do segundo semestre letivo de 2021 e sob orientação da professora Daniela Parampal, desenvolveram coletivamente práticas que fazem parte do fazer curatorial. Elaborar os conceitos da mostra, construir texto de apresentação do projeto, criar um CHAMAmento interno para obras produzidas pelos estudantes da escola, selecionar e analisar esses trabalhos, além de orientar e conversar com os artistas participantes sobre suas obras e possíveis desdobramentos. Essas ações deram forma à 8ª Mostra da Escola de Artes Visuais do Cefart – CHAMA: tramas. 

Todo o trabalho foi desenvolvido coletivamente e de forma colaborativa. A seguir, podemos ler o texto de apresentação da CHAMA: tramas.

CHAMA: tramas

O conceito central da 8ª Mostra da Escola de Artes Visuais – CHAMA: tramas nasce das inventividades de nós, estudantes do Curso Básico de Curadoria do Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado (Cefart – FCS). Durante as aulas de Fundamentos em Curadoria, sob orientação da professora Daniela Parampal, desenvolvemos o conceito da Mostra, que envolve a linha que nasce de forma individual e nos insere em uma trama coletiva, na qual encontramos relações, vínculos, convergências e a explicita a importância das conexões culturais e afetivas.

Paula Ribeiro, “Sewing dreams”, 2022 (Desenho digitalizado)

Tecer. Tramar. Expandir. A trama está ligada ao ato de unir pontos como num tear, fios vão se entrelaçando e criando um tecido. Nesse contexto, em um primeiro momento, está ligada ao ato da costura, onde o conjunto de fios vai se juntando e criando o tecido. Na literatura, a trama é o enredo, aquilo que liga a história a seus personagens. De ponto em ponto, tecemos histórias e alinhavamos narrativas. Nessa costura, intimamente ligada aos afetos, conhecemos outras faces de nossas identidades enquanto parte de um todo.

A poética do artista Jarbas Juarez, natural de Coqueiral (MG) e morador de Belo Horizonte desde sua juventude, remonta às suas relações de afetos e de construções dentro do território mineiro. Em duas de suas obras, “Colhendo café”, 1977, e “Café”, 1978, pertencentes ao acervo da FCS e que são ponto de partida para a esta Mostra, a trama também se faz presente. Seja em seu modo mais concreto, na cesta da apanhadora de café, ou ao mostrar como o mundo o afeta, o artista consegue aproximar o público de suas memórias, relações pessoais e vivências, voltando às raízes da mineiridade. A própria ideia de mineiridade presente na obra de Jarbas é uma ampla trama de tradições e culturas do regionalismo, para a qual o popular, o fazer com as mãos, a rusticidade, compõem identidades plurais.

No avesso da trama, o artista propõe a reinvenção do olhar, trazendo elementos que originalmente não fariam parte do imaginário da mineiridade, e isso permite que possamos visualizar outras possibilidades e ramificações desse entrelace. Com esses elementos, o artista tece um exercício de aproximar-se do cotidiano, dando ao simples um lugar de destaque em seu trabalho. 

Shiiti, “Dissoluto II” #20, 2021 (Desenho digitalizado)

Somos a terceira turma do Curso Básico de Curadoria do Cefart, com formação totalmente online em decorrência da crise sanitária causada pela pandemia da Covid-19. Apesar das dificuldades de conexão, reais e virtuais, assim como todos os pesares desse período pandêmico, no âmbito da construção de redes e de aprendizado, reconhecemos novas possibilidades de contato, os quais não seriam possíveis se o curso fosse presencial. A oferta do curso on-line possibilitou que pessoas de outros estados como Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo pudessem se conectar virtualmente, agregando trocas e conhecimentos plurais. 

Tramamos, pois, contra o isolamento social imposto pela pandemia, buscando na tessitura a construção de redes que nos conectam e nos expandem. 

Lisandra Marques, “O tecer do jardim”, 2019 (fotografia digital)

Autores: Adriana Martins da Silva, Camila Borges De Carvalho, Carolina Pires Maia, Fátima Regina Silva, Flávia Rodrigues Borges, Helaine Nolasco Queiroz, Italo de Barros Gonçalves, Lisandra Marques, Mariana Cristina Soares, Mozileide Neri Barbosa, Paula de Souza Ribeiro, Paula Lemos Vilaça Faria, Paulo César Marques Holanda, Priscila Pâmela de Moura, Rafaela de Angeli Gama, Silvia Maria Nascimento Amarante, Tadeu Murilo Soares de Oliveira, Vania Margarida Cáus e Victória Caroline de Souza Brandão.

Orientação: Daniela Parampal.

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