B) Brígida Baltar

A artista desta semana do nosso inventário de nomes é Brígida Baltar. “B” é a primeira letra do seu nome e, nessa nova etapa do “Bora falar de arte?”, vamos inventariar o mundo com nomes, objetos, paisagens e pessoas.

Palavras-chave: casa, fabulações e Brígida Baltar.

Nossa lista alfabética agora é de nomes de artistas:  

Bora falar de arte?

Foto: Mara Tavares

Na postagem anterior, conversamos sobre Arthur Bispo do Rosário e sua distinta forma de inventariar o mundo. Falamos sobre a cor azul, linha condutora em seus bordados; sobre a sua obra “Manto da Apresentação” (s/data) e sobre seu processo de trabalho, que se tornou um método para muitos artistas. Aqui, no A de Arthur, você encontra essa postagem.

Brígida Baltar

Brígida Baltar nasceu em 1959 no Rio de Janeiro. Para desenvolver seus projetos, ela trabalha com vários suportes: vídeo, fotografia, performance, instalação, escultura e desenho. As questões oníricas, as fabulações, os seres quiméricos, as narrativas do corpo são matérias de investigação para o seu processo criativo, que permitem parar o tempo e criar uma outra temporalidade, um tempo único. A razão perde espaço para suas narrativas poéticas e o corpo é entendido como um elemento de constituição dessa experiência. Pensar o mundo por outras perspectivas, tocar o intangível, captar o que é matéria fina na natureza são caminhos que encontramos nos processos artísticos de Brígida.

A casa

De sua própria casa, Baltar fez seu ateliê. Ao pensar a casa como lar, abrigo, fortaleza, ela passou a desenhar nas paredes e escavar, a abrir janelas, a imaginar seu corpo como uma estrutura dessa casa. Assim, medindo o corpo na parede, desenhando sua forma e escavando, Baltar entra nesse buraco e sugere um corpo-parede. O projeto “Pó de Tijolo” (1990 – 2000) nasce desse gesto de tirar as camadas, de transformar em matéria de trabalho essas poeiras que vão surgindo. A casa, como um corpo-vivo, vai reagindo ao tempo: goteiras no telhado, descamações da pintura, madeiras, pedaços de paredes… como um desaparecimento.

Dessas coletas de coisas que nasceram para ser sólidas (tijolo, parede, casa), a artista desestrutura essa ideia ao levar para outros lugares essa casa-viva e, num gesto de potência poética, a casa se torna “Abrigo” (1996), “Um céu entre paredes” (2005), “Casa” (1997), “Torre” (1996), “Horta da casa” (1996/2019), “Canto brocado” (2007), “Floresta vermelha” (2009), “Flora do sertão” (2008) e “Chão” (2018).

Foto: Mara Tavares

Projeto “Coletas” (1993 – 2005)

Nesse projeto, Brígida reúne substâncias presentes na natureza que, por serem pequenas, só são percebidas em grande quantidade: a neblina, a maresia e o orvalho. A artista captura essas minúsculas formas de água e de ar. A neblina é a condensação do ar quente e úmido ao tocar a água ou o solo frio, soltando gotículas; a maresia é o resultado de uma suspensão de partículas de água salgada, levadas pelo vento; e o orvalho se forma pela diminuição da temperatura, uma condensação da umidade do ar que precipita em gota. Esses são os elementos que Baltar trabalha nesse projeto, pequenas coisas que se transformam… Um gesto de sensibilidade diante da natureza. Essas coletas foram feitas utilizando objetos que ela criou, imaginados para essa ação – transparentes, leves e delicados. Um trabalho que nos convoca a pensar sobre nossas formas de ver o mundo e, quem sabe, as pessoas.

Veja mais informações no portfólio da artista. Além do projeto “Coletas”, que traz esse sentimento de inventariar o mundo a partir dessas sutilezas presentes na natureza, ela tem outros projetos que tratam dessa dimensão existencial.

Bora?

Foto: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea.

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.