B) Bahia e Ayrson Heráclito

Palavras-chave: performance, cultura afro-brasileira, Bahia.

Bora falar de arte?

Depois de passarmos pelo Amazonas e conversarmos sobre Denilson Baniwa, o “Bora” desta semana está transitando pela região Nordeste. “Estamos em pleno mar…”, estamos na Bahia (capital Salvador), estado mais antigo do Brasil, que foi a principal porta de entrada para os povos europeus no início da colonização brasileira, sobretudo os portugueses. Da Baía de Todos-os-Santos para a Bahia dos Tupinambás, dos Aimorés, dos Tupiniquins, da Guiné, do Congo, da Angola, de Benin, dos Castros Alves, dos Malês, das Marias Felipas, Quitérias, dos Doces Bárbaros, dos Ayrsons entre outros. 

Ayrson Heráclito (1968) nasceu em Macaúbas, Bahia. Sua trajetória artística iniciou-se nos anos 1980. Artista visual, curador, professor universitário e Ogã Sojatin de um Humpame de Jeje-Mahi, suas obras operam com elementos da cultura afro-brasileira, discutindo a relação entre a arte e o sagrado; questões do Brasil colonial; e o mito da democracia racial. Desenvolve seus trabalhos de instalação, performance, fotografia e audiovisual, utilizando materiais perecíveis como açúcar, dendê, carne de charque, pipocas, folhas etc. Esses materiais evocam questões de resistência, reparação e descolonização. 

Imagem: Mara Tavares

Yorùbáiano 

A exposição Yorùbáiano foi concebida para o Museu de Arte do Rio (MAR) em 2021. Nessa exposição, o artista traça a rota, de forma poética e crítica, da diáspora africana que veio para a América Latina. Para isso, narra, visualmente, as práticas sociais, econômicas e culturais do Brasil Colônia que estruturaram a constituição desse país.  

Açúcar, cachaça e dendê são, respectivamente, alguns dos elementos utilizados para materializar simbolicamente a ganância da monocultura canavieira, os gestos sagrados para os orixás e o “sangue vegetal” representado pelo azeite. Rituais e danças movimentam as forças mitológicas africanas. Nas performances, o corpo diaspórico é apresentado como um caminho que permite a passagem entre o passado e o futuro, gerando gestos cosmogônicos, insurgentes, sagrados e estéticos. 

Conhecer o passado brasileiro pela memória e voz do povo negro; refazer as rotas dos navios; estar em pleno mar e ver as margens: entre Brasil e África, entre a Bahia e a Ilha de Gorée, entre a Casa da Torre e a Casa dos Escravos (Maison des Esclaves) seria compreender uma dimensão primordial de nossa humanidade.

Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea! 

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.