C) Carmela Gross

Palavras-chave: cidade, desenho e Carmela Gross.

Bora falar de Arte?

Seguimos inventariando o mundo com nomes, objetos, paisagens e pessoas. Esta semana apresentaremos uma artista que tem seu nome iniciado com a letra “C”. E queremos saber: A cidade te inspira? O que mais chama a sua atenção ao caminhar pelas ruas? 

Foto: Daniela Parampal

Na postagem anterior, conversamos sobre o trabalho da artista Brígida Baltar, que dialoga com o espaço da casa, das memórias e da imaginação. Você pode ler esse texto em B) Brígida Baltar. Aqui, nesta postagem, iremos conhecer outra artista que também observa e cria a partir das percepções do seu mundo: Carmela Gross.

Carmela Gross

Carmela Gross iniciou sua produção artística em meados dos anos 1960. Morando no maior centro urbano do país, São Paulo, a vida nos espaços urbanos sempre chamou sua atenção e hoje reflete em seus trabalhos. A prática do desenho também conduz Carmela em suas produções, tornando-o núcleo delas, seja como um rabisco ou como projetos bem delimitados. O desenho deriva para outros suportes: esculturas, instalações, gravuras, pinturas, intervenções urbanas… Para ela, desenhar é um modo de pensar: a ideia vai da cabeça para as mãos e dessas para o papel.

Foto: Daniela Parampal

A cidade

Os estímulos da cidade grande são inspirações para Carmela: formas de se locomover, seus fluxos, suas linguagens e organizações próprias. A maior atenção a esse espaço iniciou-se na infância. Ela se lembra que, quando ia à casa de sua avó, gostava de ver os letreiros luminosos no caminho: ela atravessava a cidade e as imagens a atravessavam. O urbano se tornou tema de produções artísticas. Mais tarde, a cidade virou também o suporte de muitas de suas obras, acontecendo nas ruas, nos parques, nas fachadas de edifícios e em viadutos. Carmela ressalta que, imersa na cidade, a obra de arte dialoga com o espaço da vida. O espectador é o passante desavisado que não se dá conta de que o que há ali é arte e assim pode ter uma relação mais espontânea com a obra.

Foto: Daniela Parampal

“Se Vende” (2008)

Um enorme letreiro luminoso em acrílico vermelho e alumínio dá forma à frase: “Se vende”. Essa é uma obra de Carmela Gross cujo título é a frase. Usualmente o trabalho é exposto em áreas externas e por sua grande dimensão, 3,30 metros de altura por 13,50 metros de largura, é visível desde longe. Ao aproximar-se da obra, o espectador se torna pequeno diante das letras e de seu recado. O jogo de cor, luz, tamanho e mensagem se integra à paisagem urbana habituada às publicidades e às sinalizações chamativas. Porém, ao ser exposta diante de instituições culturais públicas, causa incômodos e reflexões: “Por que uma instituição pública estaria à venda? Ou o que estão vendendo ali?”.  Assim, leva-nos a pensar sobre o sistema das artes e sobre o controle dos espaços públicos.

“Se vende” já foi exposta em diferentes cidades e instituições. Em 2014, fez parte da exposição “Escavar o futuro”, produzida pela Fundação Clóvis Salgado e realizada no Palácio das Artes e em seu entorno. Nessa ocasião, a obra foi instalada dentro do Parque Municipal (parque localizado no centro de Belo Horizonte e que faz fronteira com o Palácio das Artes). O local escolhido foi um gramado muito utilizado e que fica próximo aos fundos da Instituição Cultural. Dessa forma, o letreiro podia ser visto tanto por quem estava dentro do Palácio das Artes quanto por quem caminhava pelo Parque. Nesse local, a obra é menos entendida como arte e, pela escolha de ser instalada ali, ganhou mais uma “camada de discussão”, agora incluindo a natureza dentro da cidade como uma possibilidade de espaço público que estaria à venda.

 

Foto: Daniela Parampal

Conheça outros trabalhos de Carmela Gross em seu portfólio e descubra como ela se apropria das coisas do mundo para construir arte pela cidade. 

Bora?

Na próxima publicação, o nosso convite continua aberto: ‒ Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do CEFART – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do CEFART – FCS.