Cidade como suporte para arte e memória: Paulo Nazareth

O mineiro valadarense, artista visual performático, desenhista, escultor, fotógrafo, gravador, pintor e videoartista Paulo Sérgio da Silva (1977) “carrega e é carregado pelo nome de sua avó materna Nazareth”, como nos conta o próprio artista em entrevista (Epistemologias Comunitárias, 2019). Ele vive e trabalha em Santa Luzia e em Belo Horizonte, mas também em todo o restante do mundo. Formado em Desenho e Gravura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nazareth direciona sua pesquisa para as linguagens múltiplas, tendo seus trabalhos conhecidos em vários países devido aos questionamentos sobre os limites da performance enquanto linguagem artística. O objeto, nas obras do artista contemporâneo, não é mais importante do que suas ações. O trabalho de Paulo se constitui pelo comportamento do próprio artista, que reconhece suas obras como “arte de conduta”.

O “Bora Falar de Arte?” possui uma publicação sobre o artista e suas performances “Notícias da América” (2010) e “Trabalho” (2007). Para conferi-la, clique aqui.

Neste espaço, vamos refletir sobre uma série de videoperformances feitas por Paulo em diferentes lugares, com títulos variados, mas com uma mesma temática central. As videoperformances são filmadas em preto e branco e ocupam as ruas das cidades durante o dia, em meio ao fluxo cotidiano de pessoas e de veículos que passam pelos locais em que as ações ocorrem. Nas imagens dos vídeos, o artista caminha para trás circulando o entorno de uma árvore várias vezes seguidas.

Veja alguns frames dos vídeos a seguir:

Paulo Nazareth, frame do vídeo “Cine Brasil”, 2012/2013, 15’10”
Paulo Nazareth, frame do vídeo “L’arbre d’Oublier”, 2013, 27’31”
Paulo Nazareth, frame do vídeo “Ipê Amarelo”, 2012/2013, 15’43”
Paulo Nazareth, frame do vídeo “Cine África”, 2012/2013, 7’34”

De acordo com o jornalista e crítico de arte Felipe Molitor (2021):

“Paulo Nazareth leva os limites da performance e do objeto de arte ao extremo, utilizando o vídeo como registro e reiteração de conceitos caros à sua poética. Andarilho que é, em sua obra mais conhecida, Nazareth saiu de sua Minas Gerais natal a pé até chegar à cidade de Miami, nos EUA, para a feira Art Basel em 2010. O caminho só de ida, no entanto, representa um retorno às suas raízes africanas e indígenas. Em “Cine Brasil”, gravado em Belo Horizonte, assim como em outras obras audiovisuais de Nazareth, o artista dá voltas de costas em um ipê amarelo, remetendo ao ritual da Árvore do Esquecimento, no qual os homens eram obrigados a dar sete voltas para apagar a memória do passado antes de serem enviados como escravos para as Américas. Aqui, o mesmo gesto recuperado pelo artista serve para que não nos esqueçamos mais”.

Muitos de nós quando esquecemos onde colocamos algo importante e que estamos à procura temos o hábito de reconstituir o caminho percorrido, de refazer os passos até nos lembrarmos ou acharmos o objeto perdido. Em “Andando para trás”, o artista reivindica aquilo que se perdeu, o esquecimento forçado que o povo escravizado foi obrigado a fazer em nome de uma “nova vida” nas Américas: nome próprio, valores, práticas religiosas, língua, família, memórias, cultura e costumes, enfim, sua própria identidade.

Existem situações que não devemos esquecer para que elas nunca mais se repitam, como a da história desse trabalho de Paulo.

E para você? O que é importante não ser esquecido e o que devemos esquecer? Se você sentiu curiosidade de conhecer um pouco mais da produção de Paulo e deseja assistir aos vídeos mencionados nesta proposta, clique aqui.

Depois de assistir aos vídeos, você conseguiu perceber mais algum detalhe no trabalho do artista? Compartilhe suas percepções e nos conte como você lida com esse tema tão importante. Use as hashtags #educativofcs, #criarte e também @fcs.palaciodasartes no Instagram.

Referências:

MOLITOR, Felipe. Editorial Videoarte contra o Poder. SPArte 365, 2021. Disponível em: <https://www.sp-arte.com/editorial/videoarte-contra-o-poder/>. Acesso em: 27 out. 2021.

NAZARETH, Paulo. Paulo Nazareth. Retrato 2. Epistemologias Comunitárias, 2019, 26’25”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5f0nqDALeMI>. Acesso em: 27 out. 2021.

PAULO Nazareth. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa425936/paulo-nazareth>. Acesso em: 27 out. 2021.

Sobre a autora:

Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

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