D) Danielle Fonseca

Palavras-chave: água, videoarte e Danielle Fonseca.

Bora falar de arte?

Seguimos inventariando o mundo com nomes, objetos, paisagens e pessoas, utilizando o alfabeto, que está na letra “D”. Esta semana apresentaremos a artista Danielle Fonseca e nos perguntamos: como a água pode ser um elemento de investigação para a arte contemporânea?  

Ilustração: Mara Tavares.

Na postagem anterior, conversamos sobre o trabalho da artista Carmela Gross. Você pode ler esse texto em C) Carmela Gross. Para Carmela, o desenho é uma forma de pensamento que se desdobra em outras linguagens e que possibilita criar novos movimentos para o fluxo da cidade. Agora, nesta postagem, vamos pensar em outro fluxo, o fluxo das águas.

Danielle Fonseca

Danielle Fonseca nasceu em 1975, em Belém, no Pará. Atualmente, vive e trabalha na região. É artista visual e escritora. Produz imagens por meio de vários suportes: escrita, vídeo, fotografia, performance e pintura, explorando a plasticidade de cada linguagem. As paisagens, a literatura, a poesia, a filosofia, a música e o surfe são matérias de investigação para o seu processo criativo, que nos permite pensar sobre o tempo e o espaço em uma dimensão líquida, fluida e movente. O corpo, entendido como um elemento de constituição dessa experiência, age sobre as águas amazônicas tornando-se substância poética. Pensar o mundo por outras perspectivas e experienciar a arte pelas águas: esse é o processo sobre o qual a artista nos convida a refletir.

Ilustração: Mara Tavares.

A água

Como todos os rios do mundo, os rios do Norte desaguam no mar. Porém, devido às suas grandes extensões e volumes, em alguns deles é possível até “pegar uma onda”. O olhar posto no horizonte, a poesia insular e a esperança de um futuro são forças presentes no vídeo “Rumo ao Farol” (2007), em que a água se transforma no elemento de aproximação entre duas mulheres. Virginia Woolf, que escreveu “Ao Farol” em 1927, e a artista, que cria uma livre interpretação desse mundo poético, submersa em paisagens, palavras e imagens. Já em “Martelo sem mestre” (2015), que esteve no Palácio das Artes na exposição “Entre Acervos” em 2018, a água se faz canção e potência estética e filosófica para um corpo que surfa. Nessa obra, entre um mar, um rio e às margens de uma floresta tropical, acontece o desejo da artista de surfar em um piano quebrado, construindo no movimento das águas, da música e das fotografias, uma reflexão sobre o incontrolável. Assim, a artista Danielle Fonseca baseia a poética de seus trabalhos nessas forças criadoras da água, onde fluem o desejo de movimento de seu corpo e suas narrativas. Um corpo que se torna o encontro dessas potências inventivas. Um corpo que se permite experimentar outras formas de compreender os saberes que se manifestam no mundo.

Ilustração: Mara Tavares.

“Posseidon é Cabra, Abelha e o Movimento dos Barcos” (2016)

O curta-metragem “Posseidon é Cabra, Abelha e o Movimento dos Barcos (2016)” abre as possibilidades de transbordamentos de significados, onde podemos imaginar figuras mitopoéticas – o desejo de seres híbridos: um Posseidon-tsunami, um homem-cabra, uma abelha-mulher e uma mergulhadora-peixe, que acontecem a partir da reflexão sobre o elemento água e sob a direção da artista. Nesse sentido, a obra traz em quatro atos as metamorfoses, a prancha, as canções, os oceanos e o mergulho como caminhos que se constroem para o interior de um mundo ainda por descobrir. Um mundo mais atento aos movimentos da natureza, mais interno, mais de escuta, mais silencioso, e que convoca você a se permitir aos ritmos, à fluidez, a deixar o tempo passar e aos encontros. E por isso também poderia vir a ser mais aberto, mais solto, mais musicado, e, quem sabe, mais poético. O que nos leva a perguntar: que águas, que mares fluem em nossos corpos? Que histórias, narrativas, e que mergulhos desejamos fazer? E para um corpo, que também pode ser uma embarcação, que seres queremos nos tornar?

Ilustração: Mara Tavares.

Se você quiser mergulhar ainda mais na poética de Danielle Fonseca, acesse seus outros trabalhos e descubra como ela cria novos fluxos para a arte contemporânea. 

Bora?

Na próxima publicação, o nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.