O cinema sempre foi fascinado pelo mistério e pelos meandros de sua investigação. Poucos espectadores resistem ao convite para desvendar segredos e (re)construir pistas. Entrando nesse jogo, de interrogação e revelação, o Cine Humberto Mauro exibe clássicos filmes de mistério em sua nova mostra gratuita, “Nos Rastros da Imagem: Filmes de Detetive”. A programação, que vai dos dias 8 a 24 de julho, percorre vários períodos da história do cinema, trazendo mais de 20 filmes, dirigidos por cineastas aclamados como Buster Keaton, Alfred Hitchcock, Jean Luc-Godard, Kathryn Bigelow, David Fincher e Kiyoshi Kurosawa. Para as sessões no Cine Humberto Mauro, metade dos ingressos estará disponível no site da Eventim e o restante será distribuído na bilheteria da sala, mediante a apresentação de documento com foto. Além da programação presencial, cinco filmes poderão ser assistidos na plataforma CineHumbertoMauroMAIS, também de forma gratuita, ao longo da duração da mostra.
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A mostra “Nos Rastros da Imagem: Filmes de Detetive” propõe um percurso através de filmes que marcaram e reformularam a tradição do cinema investigativo. Obras incontornáveis da história do cinema fazem parte da curadoria: “Sherlock Jr.” (1924), de Buster Keaton; “Relíquia Macabra” (1941), de John Huston; “À Beira do Abismo (1946), de Howard Hawks; “Um Corpo que Cai” (1958), de Alfred Hitchcock; “Alphaville” (1965), de Jean-Luc Godard; “Shaft” (1971), de Gordon Parks; “Um Tiro na Noite (1981), de Brian De Palma; “Blade Runner – O Caçador de Androides” (1982), de Ridley Scott; “O Silêncio dos Inocentes” (1991), de Jonathan Demme; “Estranhos Prazeres” (1995), de Kathryn Bigelow; “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (1995), de David Fincher; “Fargo: Uma Comédia de Erros” (1996), dos irmãos Joel e Ethan Coen; “A Cura” (1997), de Kiyoshi Kurosawa; entre muitos outros. Além das exibições, a mostra ainda terá uma sessão comentada, com foco no filme de Godard, no dia 15 de julho, às 19h30. O comentário será feito pelo pesquisador Pedro Rena.
A mostra “Nos Rastros da Imagem: Filmes de Detetive” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale e Grupo FrediZak, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada por meio da Lei Paulo Gustavo (LPG) e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução.
Investigando o mistério do cinema – Talvez o primeiro cineasta a trabalhar com a íntima ligação entre imagem e investigação tenha sido Buster Keaton, em “Sherlock Jr.”. Nele, o detetive torna literal o desejo de entrar na cena: o protagonista atravessa a tela e mergulha em um mundo regido pelas leis do cinema. O personagem, nesse universo cômico e onírico, não apenas persegue um mistério — ele persegue a imagem, entra nela, torna-se parte de sua lógica, de seu fascínio. Keaton antecipa, com humor, uma tensão central do cinema moderno e clássico: a relação entre a imagem e a verdade.
Já em “Um Copo Que Cai”, o olhar detetivesco torna-se obsessivo, voyeurístico; a investigação se transforma em uma armadilha do desejo. O detetive, que persegue um enigma pode, na verdade, ser tragado por ele. Trata-se de um filme que remonta, por sua vez, ao cinema noir dos anos 1940, marcado pelo enredo detetivesco e pelas sombras que cobrem tanto as histórias quanto a visualidade. Em filmes como “Relíquia Macabra” e “À Beira do Abismo”, por exemplo, os enredos são labirínticos, os relatos dos personagens contraditórios e os rostos mascarados pelo preto e branco altamente contrastado.
“Shaft”, por sua vez, foi um dos filmes precursores do movimento blaxploitation (obras feitas por diretores negros e voltadas para o público afro-americano), apresentando um novo tipo de herói de ação: um detetive particular nova-iorquino experiente que é recrutado para resgatar a filha sequestrada de um chefe da máfia do Harlem. O filme faz um retrato enérgico da Manhattan dos anos 1970, e é célebre também pelas elegantes roupas de couro do protagonista e pela icônica trilha sonora de funk e soul de Isaac Hayes.
Outro destaque da mostra é o aclamado “Blade Runner – O Caçador de Androides”, mistura de ficção científica e neonoir que se passa no ano de 2019, em uma decadente e futurista Los Angeles. Em um contexto de colapso material e moral da civilização humana, o personagem principal, um assassino de robôs, precisa lidar com complexas questões éticas e existenciais. Um marco moderno da ficção científica cinematográfica, o filme propõe uma reflexão melancólica sobre a essência da humanidade.
De Kathryn Bigelow, cineasta que se tornou a primeira mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção, a mostra traz o filme “Estranhos Prazeres”, também uma combinação de ficção científica e neonoir. Passado em um futuro distópico às vésperas do ano 2000, o longa acompanha um ex-policial que agora trafica gravações neurais ilegais — experiências vividas por outras pessoas — e acaba se envolvendo em uma conspiração ao receber um registro que revela um assassinato brutal. Ele então mergulha em um submundo de corrupção, violência e vigilância, onde memória e realidade se confundem.
Os dois últimos filmes citados aparecem no contexto de emergência do cinema de gênero híbrido, nas últimas décadas do século XX, quando a figura do investigador se insere em um mundo onde os limites entre a psicologia, o crime e a cultura midiática se embaralham. O premiado “O Silêncio dos Inocentes” representa um marco nesse sentido: a investigação criminal não é apenas um percurso racional, mas uma imersão em abismos subjetivos e pulsões violentas.
Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, defende que é possível pensar que o cinema encontrou na investigação um espelho de sua própria linguagem: ver, ouvir, rever, ocultar, montar, revelar. “Para alguns, os registros, por si só, já contêm algo de investigativo, já que há sempre um rastro deixado nas imagens. Então esses são apenas alguns dos filmes que serão exibidos na mostra, ajudando-nos a refletir sobre o próprio ato de ver, investigar e narrar. Trata-se de um passeio pela história do cinema através dessas histórias que intrigaram gerações de espectadores. E o mais interessante é que talvez nenhum desses filmes nos apresente respostas definitivas, mas sim perguntas cada vez mais precisas e, claro, histórias que nos deixam fascinados”, afirma Miranda.
CINE HUMBERTO MAURO – Um dos mais tradicionais cinemas de Belo Horizonte, foi inaugurado em 1978. Seu nome homenageia um dos pioneiros do cinema brasileiro, o mineiro Humberto Mauro (1897-1983), grande realizador cinematográfico. Com 129 lugares, possui equipamentos de som Dolby Digital e para exibição de filmes em 3D e 4K. Nestes mais de 45 anos de existência, a Fundação Clóvis Salgado tem investido na consolidação do espaço como um local de formação de novos públicos a partir de programação diversificada, bem como através da criação de mecanismos de estímulo à produção audiovisual, com a realização do tradicional FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, e o Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem de Baixo Orçamento. O Cine Humberto Mauro também é um importante difusor do conhecimento ao promover cursos, seminários, debates e palestras. Sessões permanentes e comentadas também têm espaço cativo a partir das mostras História Permanente do Cinema, Cinema e Psicanálise, Curta no Almoço, entre outros. Todas as atividades do Cine Humberto Mauro são gratuitas.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado é responsável, ainda, pela gestão do Circuito Liberdade, do qual fazem parte o Palácio das Artes e a CâmeraSete, entre outros diversos equipamentos. Em 2021, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.