F) Fernanda Gomes

Palavras-chave: branco, espaço, Fernanda Gomes.

Bora falar de arte?

Esta semana, no inventário dos nomes de artistas do “Bora falar de arte?”, apresentaremos para vocês alguns aspectos do processo criativo de Fernanda Gomes. Na publicação anterior, o assunto foi sobre a poética de Esther az, que passou pelos temas do descanso, da memória e por sugestões de como afagar o tédio.

Observar os objetos por um momento. Demorar-se nas suas qualidades: cor, textura, forma… aproximar-se ainda mais para ver a ação do tempo. Ater-se aos modos em que foram consumidos, descartados e esquecidos. Pressentir que ainda guardam algo importante em suas naturezas. Separá-los, organizá-los junto a outros de mesmo destino e remontá-los em uma outra ordem de valor em um espaço, no mundo. E assim, reconfigurar pelo estado de presença as relações que estabelecemos com eles.

Fernanda Gomes

Fernanda Gomes é uma artista que cuida dessas formas de se experienciar as materialidades dos objetos pelo viés do precário, do frágil e da impermanência, mas que lida também com uma força, uma autenticidade e uma presença. Nascida no Rio de Janeiro, em 1960, ela trabalha com materiais descartáveis, com objetos insignificantes ou com objetos ordinários, tais como: papéis de maço de cigarros ou palavras recortadas de jornais e coladas em papéis pintados de branco.

À medida que o seu percurso artístico se adensa em mais atividades, constitui-se em possibilidades de experienciar camadas mais sutis sobre o que seria o fazer da arte. Exemplo disso é o uso da cor branca em algumas de suas obras. Essa cor atua como um elemento de força, que insere no objeto a ser pintado a luz necessária para ser visto de uma outra maneira, na qual se instala um equilíbrio – uma abertura em que se realiza as dimensões do vazio e do cheio. Esse uso, porém, não reduz a potência de gerar situações opostas, uma vez que interessa à artista o mais íntimo dessa composição. É importante dizer que esse branco também pode receber e guardar as impurezas dos desgastes.

Fotos: Mara Tavares.

Talvez por isso, o branco que vemos em suas obras possa instituir um lugar ativo acerca da relação que temos com os objetos do cotidiano, percebendo na realidade essa nuance plástica da cor. E a partir desse elemento encontrar outros matizes entre arte e vida.

Foto: Mara Tavares.

Outra presença sutil para a realização da exposição é a luz que, em algumas obras, funde-se ao objeto estético. Além disso, há também a escolha por trabalhar com materiais “crus”, sem muito acabamento, o que poderia instalar uma sensação de se perguntar: por que este material? Ou por que este material nesta composição aqui? Ou por que naquele espaço ali? Como, por exemplo, a madeira. Dela poderíamos refletir sobre a natureza morta que compõe a mesa, a escada, o suporte, o piso e as suas relações. Qual seria o destino a mais desses objetos? Assim, a artista recolhe, de caçambas, da casa ou de outros lugares, a matéria sensível de sua poética.  

Espaço

Outro aspecto importante no trabalho de Fernanda é sua relação com o espaço. Em sua investigação sobre a natureza única dos objetos no espaço, ela busca captar do local as sensações que esse ambiente emite pela iluminação, pelo cheiro, pelo som e com isso estabelecer um lugar, às vezes provisório, para esses objetos na exposição. Desse modo, suas instalações e movimentações vão se constituindo da relação sinestésica do seu corpo com a atmosfera. Nele, no espaço, os objetos – garrafas, fios, papéis de cigarro, jornais, arames, pedras, páginas de livros, ouro, entre outros – vão se encontrando.

Ateliê

Sobre ateliê, exposição, rua e espaço. Entende-se que o espaço seria para ela como círculos concêntricos se desdobrando em energias. Dessa forma, o ateliê é levado à exposição; por outro lado, o espaço expositivo pode se tornar o próprio ateliê. Isso pode gerar um estado de ex-posição, quando nos deslocamos das nossas impressões sobre as relações que temos tanto com os objetos que observamos quanto com o espaço em que atuamos e talvez como, dentro de nós, levaríamos essas exposições para as ruas. E, com isso, refletir: que desdobramentos dessa experiência nesses espaços poderiam revelar um estado de presença?

Bem, além desses aspectos abordados, no livro “ArteBra Fernanda Gomes”, você pode ter acesso às imagens das obras, à biografia e aos outros escritos sobre a artista.

‒ Bora?

Na próxima publicação, o nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.