Farnese de Andrade e as redomas

O que você colocaria em uma redoma para guardar e proteger para sempre? Existe alguém ou algo muito importante para você e que te faz companhia em momentos solitários, principalmente neste período de isolamento social devido à pandemia da Covid-19? Na sua casa, existem fotografias ou objetos de valor sentimental que ficam guardados em um local especial, em uma caixa, um porta-retratos ou uma redoma? Momentos e memórias importantes que você “capturou” por meio da fotografia? Você já imaginou se os objetos tivessem memória? E se eles tivessem o poder de contar qual percurso fizeram para chegar até você, o que contariam?

Figura 1: Sem título, Farnese de Andrade, 1996, assemblage, 24x34x28cm.
Fonte: Catálogo “Farnese de Andrade, Arqueologia Existencial” – FCS.

O artista visual Farnese de Andrade, nascido em Araguari (MG) e falecido há mais de vinte anos, saía a caminhar com um olhar atento e sensível ao seu entorno, coletando objetos e refugos vindos do mar, das ruas e dos antiquários. Resgatava essas peças que estavam rejeitadas, solitárias ou esquecidas ali e, a partir disso, criava suas assemblages. Era um colecionador e um ressignificador de objetos. Até pouco tempo, o artista vivia como que “à margem” da Arte Brasileira, mas, segundo o curador Marcus Lontra (2019), conquistou a importância que tem hoje, porque desenvolvia suas obras com temas e conceitos muito próximos a nós. Temas como sexualidade, sistema de arte, religião, razão e loucura foram amplamente explorados pelo artista em sua produção.

Farnese tinha um apego à solidão, interessando-se por passar o tempo em companhia de suas peças e objetos. Muitos de seus trabalhos se tratavam de objetos que eram “aprisionados” em redomas e em caixas/oratórios.

Figura 2: “O Anjo”, Farnese de Andrade, 1995, assemblage, 43x34x19cm.
Fonte: Catálogo “Farnese de Andrade, Arqueologia Existencial” – FCS.

“Farnese de Andrade, Arqueologia Existencial” foi o título dado à exposição de uma série de trabalhos do artista, realizada em 2016 na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard (FCS), sob a curadoria de Marcus Lontra. A visita à exposição despertava estranhamento, curiosidade e toda a sorte de sensações nos visitantes. De acordo com Lontra (2019), “ao mesmo tempo em que Farnese explora com poéticas sensíveis e generosas” também incita questões que são “amargas, tementes”, que “trabalham constantemente a situação humana, a existência humana, seus medos, sua morte, seu final e finitude”. Ainda para o curador, Farnese é um artista que provoca o “seu medo, sua dúvida e que vai te buscar e te pedir que você descubra, em toda essa estranheza, onde mora a beleza”.

Figura 3: “A Grande Alegria”, Farnese de Andrade, 1966-1978, assemblage, 70x69x15 cm.
Fonte: Catálogo Farnese de Andrade, Arqueologia Existencial – FCS.

E você? Quais impressões você teve ao olhar as imagens dos trabalhos desse artista? Quais sensações elas trouxeram? Quais interpretações e conceitos surgiram a partir disso? Você guardaria algum desses objetos em um recipiente ou redoma para protegê-lo ou isolá-lo do mundo? E os seus objetos? Gostaria de nos contar as histórias que eles carregam?

Compartilhe suas percepções sobre os trabalhos de Farnese de Andrade e também escolha um objeto ou fotografia que você guarda para nos contar sobre sua história e sobre o porquê ele é importante para você. Publique em suas redes sociais usando as hashtags #educativofcs, #criarte e também @fcs.palaciodasartes no Instagram.

O artista Farnese de Andrade já foi tema de outra publicação do Educativo FCS On-line, que você pode conferir clicando aqui.

Se quiser conhecer um pouco mais sobre a produção e o processo criativo de Farnese de Andrade, assista ao curta-metragem “Farnese” (1970), de Olívio Tavares de Araújo.

Referências:

TVU Recife. Farnese de Andrade. Youtube, 4 de Janeiro de 2019. Disponível em:  <https://www.youtube.com/watch?v=8TAGihuRWK4> . Acesso em: 09 de Jul. 2021.

SOUZA, Isa Carolina Soares de. Farnese de Andrade, A Memória nos Objetos e a Saudade. Um Click de Cultura – Fundação Clóvis Salgado. 2020. Disponível em: ˂https://fcs.mg.gov.br/farnese-de-andrade-a-memoria-nos-objetos-e-a-saudade/˃. Acesso em: 09 de Jul. 2021.

Sobre a autora:

Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.