Palavras-chave: ancestralidade, retrato, Gê Viana.
Bora falar de arte?
O “Bora falar de arte?” continua com a missão de inventariar coisas e nomes. Na última publicação, a letra foi “F”, de Fernanda Gomes. Hoje, apresentaremos a letra “G” e a artista Gê Viana.
Todos nós viemos de algum lugar. Lugar com suas características e hábitos, pessoas e costumes próprios. Você conhece seu bisavô, sabe a história da sua trisavó? Os antepassados vão ficando distantes quanto mais caminhamos em nossa árvore genealógica, não só no tempo, mas também em suas características e histórias. Mesmo sem sabermos de onde vêm, vamos reproduzindo costumes e peculiaridades dos que vieram antes de nós. A forma de falar, de nos mover, um chá para o resfriado, algum medo…
Já pensou sobre isso? A artista que iremos apresentar dialoga com essas questões em seus trabalhos, partindo de inquietações íntimas e que se expandem para uma reflexão coletiva.
Gê Viana
Gê Viana é uma artista maranhense e de origem indígena, que tem desenvolvido seus trabalhos investigando as suas identidades, de gênero e étnica. Para ela, sua ancestralidade é o fio condutor de todo o processo. Seus trabalhos são desenvolvidos especialmente a partir da fotografia e da fotomontagem. Gê aproxima imagens de arquivos de fotografias feitas por ela. O espaço urbano também está presente e é potencializado em sua pesquisa. Ele aparece tanto como suporte para imagens quanto como matéria de investigação que se desdobra em ações.
“Paridade” (2018-2021)
“Paridade” é uma série ainda em desenvolvimento. Esse trabalho, de múltiplas camadas, surge do encontro com pessoas que descendem de origens indígenas, como a artista. Nesse primeiro momento, a conversa acontece como uma forma de entenderem mais sobre suas raízes para sair do silêncio e reacender memórias passadas.
Após a conversa, Gê fotografa a pessoa, criando retratos a partir da relação estabelecida entre ambos. Em um terceiro momento, sozinha e usando imagens de arquivos, ela encontra paridades e cria aproximações entre as representações de povos indígenas antigos e as fotografias feitas por ela. Índios ancestrais e contemporâneos são sobrepostos em uma imagem que se abre para outras: passado e presente, origens e raízes históricas, encontros de reconhecimentos que marcam o fim de um silêncio.
As imagens criadas vão para o espaço urbano, ocupando muros e se integrando à paisagem. As fotografias impressas em papel são coladas usando lambe-lambe, uma técnica bastante utilizada na fixação de cartazes e outdoors, que, por não terem uma longa durabilidade, se desfazem com o tempo e com a umidade.
As imagens de Gê também se tornam efêmeras na cidade, nos colocando diante da nossa ancestralidade, que foi apagada por muitos, e permitindo reconhecer-nos por meio dos corpos e dos gestos representados. No vídeo que pode ser acessado clicando aqui, conseguimos ver a instalação de “Paridades” em um muro de São Paulo.
No vídeo “Novas Paridades” (2020), Gê segue a investigação de “Paridades”, desdobrando-a em uma espécie de diálogo interno em movimento, refletindo sobre suas memórias, reais e imaginadas, que se expandem para o Maranhão e para o Brasil. Memórias que não foram ouvidas e nem contadas.
Gê Viana deseja que sua obra chegue às escolas, públicas e particulares, para gerar reflexões sobre as políticas identitárias, sociais e de gênero atuais.
Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!
Sobre as autoras:
Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.
Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.