H) Helena Trindade

Palavras-chave: letra, imagem, Helena Trindade.

Bora falar de arte?

Na publicação passada, falamos sobre o processo artístico de Gê Vianna. Nesta semana, vamos conversar sobre Helena Trindade e suas investigações sobre a letra e a imagem.

Helena Trindade

A letra, unidade mínima de uma palavra, está presente no processo artístico da artista visual Helena Trindade, que nasceu em 1960 no Rio de Janeiro. Seus trabalhos se desdobram em diversas linguagens: instalações, site specifics, poemas-objeto, vídeo, fotografia, performances, esculturas, desenhos e gravuras. A partir dessa multiplicidade de processos de investigação sobre as materialidades, podemos perceber a potência poética que a letra é capaz de gerar. Em suas obras, a letra pode ser objeto, imagem, palavra e sons.

Fotos: Mara Tavares.

Processos

Nas obras da artista, podemos encontrar um intenso trabalho de investigação plástica sobre a linguagem escrita, ressignificando a letra, rompendo com a linearidade das frases, rearticulando a linguagem verbal e visual, construindo outros alfabetos. Nesse processo, o vídeo-poema, a performance, os objetos, as instalações conduzem e ampliam as formas de percebermos a linguagem verbal para além de seus usos cotidianos de comunicação, sendo a letra e a palavra (oral ou escrita) geradoras de pensamento e organizadoras de mundos. 

Além disso, seu trabalho visual abre um espaço para refletirmos sobre a força da imagem, a força de vermos a própria ausência e o vazio da linguagem. Em seu projeto “IN-OUTDOORS” (2003), composto de uma série de outdoors inseridos na cidade, podemos nos deparar com essa provocação. Um outdoor em branco é instalado em uma região. Em seguida, essa imagem é captada e colocada em outros outdoors em outra região, ou ainda esses outdoors são inseridos no mesmo lugar com a mesma imagem fotografada. Essas variações permitem criar um jogo reflexivo de imagens, por meio do qual podemos nos deparar com outros contextos sociais ou de imagens já vistas. Outro projeto interessante é “Carta para Lygia” em que a artista faz uma escultura interativa de estênceis de letras articuladas, dialogando assim com a obra “Bichos” (1960) de Lygia Clark. 

Seus projetos nos instigam a entrar no jogo das palavras, das imagens, da relação da letra com o espaço em branco. Do poema que acontece nos vídeos-poemas, dos poemas-objetos, das instalações e intervenções na cidade. Desse movimento podemos brincar com o jogo de palavras, de frases…

Ironia

A origem da obra de Arte

é 

A carta roubada

ou um

Belo circulante

Um Amor a perder de vista

um Gosto do deserto

Como no  Estilo das facas

onde Nada terá tido lugar senão o lugar

ou uma Gramática da areia

em que  A Letra é a traça da Letra

em uma instalação que é a Medida de todas as coisas

onde Tudo é Letra…

“Tudo é Letra” (2021)

“Tudo é Letra” é um projeto que reúne obras inéditas junto a obras de outros momentos da carreira da artista. Contemplado com o Prêmio Funarte RespirArte, a videoinstalação foi captada dentro de seu ateliê durante o período da pandemia. Existe uma produção que evoca a uma criação de mundo, um mundo das palavras se reconfigurando em formas, sons e histórias. Um lugar onde escapa à explicação, em que ver, escutar e imaginar são os caminhos para viver a experiência dessa proposta em vídeo.

Papéis, partituras, palavras… aliterações, repetições de letras que fazem surgir outras sonoridades, outras danças para a língua. As alavancas das máquinas de escrever, presentes no vídeo, produzem novas formas visuais e dão vida aos seres, aos vírus, criando um outro alfabeto para essas “formas-vivas-maquínicas”. Na obra há partituras, danças, músicas, águas-vivas e alfabeto traça; há vírus, alfabeto inseto, carta oculta, “begging”, traça da letra, letras coadoras; há os brasões, “donatarias to go”, Carta de Grandes Poderes; rastros, flechas, necro alfabetos e espelhos…

Na videoinstalação, há os quatro movimentos:  Astrolábio (medindo alturas no horizonte), Letras e Seres, Brasões, Rastros e Flechas aparecendo em linguagens da gravura, da escultura, dos objetos, das imagens em movimento, da história do Brasil. Nesse universo que se inscreve em letras com outros alfabetos, em outras formas, há uma outra escrita. 

Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.