I) Iris Helena

Palavras-chave: tempo, transformação e Iris Helena.

Bora falar de arte?

O “Bora falar de arte?” continua com a missão de inventariar coisas e nomes. Na última publicação, a letra foi “H”, de Helena Trindade. Hoje, iremos apresentar a letra “I” e a artista Iris Helena.

Você já observou a passagem do tempo em algum objeto? A ferrugem de um prego exposto às intempéries, o apagamento de uma nota de supermercado, a umidade da parede que faz soltar a tinta, o papel que amarela… A artista que vamos conhecer presta muita atenção aos detalhes do tempo e coloca essas impressões em seus trabalhos.

Foto: Daniela Parampal.

Iris Helena

Iris Helena é uma artista paraibana que atualmente vive em Brasília. Ela desenvolve sua prática artística a partir da linguagem fotográfica, extrapolando compreensões mais comuns dessa técnica.  A passagem do tempo, tanto na matéria quanto nos fluxos da cidade, é a zona de interseção em seus trabalhos que, na maioria das vezes, assumem suportes precários. A efemeridade está presente naquilo que ela retrata e na forma de mostrar. Fotografias impressas em marcadores de livros, em lascas de pintura de parede, em papel higiênico, em notas de compras, em cartela de medicamentos, entre outras possibilidades. Iris conta que tudo que está ao seu redor pode se tornar suporte para suas imagens. 

Catálogo de ruínas – da série Ruínas (2011-2013)

Em “Catálogo de ruínas”, Iris usa um conjunto de fotografias de casas e prédios em ruínas na cidade de João Pessoa – PB. Essas imagens, feitas pela própria artista e em distintos momentos, são impressas em papel higiênico. Com o volume de impressões, ela constrói um livro/catálogo no qual as páginas são unidas por uma dobradiça enferrujada. A fragilidade do papel é contraposta à dureza da matéria da qual a lombada é feita, fazendo o ato de passar as páginas do livro um gesto de destruição, pois o papel não aguenta a manipulação e vai se desfazendo, seja pelo movimento seja pelo simples contato com as mãos que o manuseiam. O catálogo de ruínas acaba também se tornando uma ruína.  

Foto: Daniela Parampal.

Notas de esquecimento – da série Lembrete (2010)

Grandes painéis (207,9 x 147 cm) com imagens de um cotidiano urbano, impressos em pequenos post-its, foram fixados na parede de uma galeria: “Notas de esquecimento”. As grandes imagens foram perdendo suas partes e, com o passar dos dias, os papéis de lembrete foram se soltando da parede. O peso do papel, a umidade e a temperatura do espaço marcaram o tempo de finalização da exposição, que só encerrou quando todos os post-its caíram.

O trabalho de Iris Helena não é estático, cada obra carrega consigo transformações de ordem física e conceitual, possibilitando a reconstrução de percepções e nos fazendo ver o apagamento.

Foto: Daniela Parampal.

Acompanhe Iris Helena em seu Instagram.

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.