Os desenhos de Di Cavalcanti

Figura 1: Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte Moderna, Di Cavalcanti, 1922. Foto: Romulo Fialdini. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

O desenho como linguagem expressiva nas Artes Visuais pode se apresentar de várias maneiras através dos tempos. Essa técnica é conhecida por sua ligação com a bidimensionalidade, expressa por pontos, linhas e formas. Em edições anteriores do Criarte, mostramos materiais e técnicas que podem ser usados para produzir um desenho. Caso queira relembrar uma dessas dicas, clique aqui para revisitar uma de nossas publicações.

A linguagem do desenho existe desde a pré-história. Com o passar do tempo, essa forma de expressão continuou presente, fazendo parte das civilizações de diferentes maneiras. As possibilidades técnicas do desenho se ampliaram consideravelmente a partir das décadas finais do século XX, quando os artistas começaram a experimentar novos materiais e suportes para se expressarem por meio desta fascinante linguagem, inclusive fazendo uso dos meios digitais e das novas tecnologias para alcançar resultados inusitados.

Se pararmos para refletir sobre o assunto, podemos perceber que o desenho não acontece apenas quando é representado fisicamente na forma bidimensional (altura e largura do suporte). Ele também pode se estender pelo espaço tridimensional. O planejamento do que desejamos desenhar se inicia em nossa mente, na maneira como criamos e organizamos as formas em nossos pensamentos. Na sequência, decidimos os materiais mais adequados para produzir aquilo que imaginamos e finalizamos o imaginado.

O desenho, assim como outras linguagens das Artes Visuais, é um processo que envolve o exercício da imaginação, da elaboração e da produção. Se repararmos em nosso entorno, podemos perceber a presença do desenho em várias situações, pois o mundo em que vivemos é composto por pontos, linhas e formas. Esses elementos se estendem pelos espaços ocupados pelo nosso corpo e por onde olhamos.

Muitos profissionais utilizam o desenho como meio para se chegar a um resultado ou a um produto, por exemplo, um arquiteto para planejar um prédio ou um designer para elaborar algo (roupa, sapato, carro, móveis, etc). Antes de chegarem ao objeto imaginado, eles passam pelo desenho para indicar suas escolhas em relação às formas, dimensões, cores, materiais. Até áreas do conhecimento como a matemática e as linguagens – português, inglês e outras – fazem uso do desenho para comunicar; afinal, o que são os números ou as palavras deste texto senão desenhos? Você também desenha sem nem se atentar para isto: quando escreve, anota, rabisca, etc. Lidar com o desenho acaba fazendo parte do nosso cotidiano.

O desenho é uma das linguagens mais simples e rápidas para se criar imagens. Com alguns materiais comuns, como lápis e papel, podemos fazer um rápido desenho, transformando em imagem o que estava em nossa imaginação.

E você, gosta de desenhar? Conhece muitos artistas e profissionais que trabalham com isso? Quais tipos de desenhos são os seus favoritos?

Aproveitando que estamos no ano de comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, convidamos você para conhecer um dos artistas que participou do evento, o carioca Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (1897-1976). Conhecido como Di Cavalcanti, foi pintor, ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo. 

Ele buscava representar em sua arte elementos e figuras populares que retratassem o Brasil e suas percepções sobre o país. Foi dele a ideia de realizar a Semana da Arte Moderna e também o catálogo e o cartaz de divulgação do evento (figura 1). Na exposição, o artista participou com alguns de seus trabalhos. Conforme a Enciclopédia Itaú Cultural (2022), “Di Cavalcanti, em sua produção, atenta para a formação de um repertório visual ligado à realidade brasileira, compreendendo a arte como uma forma de participação social. Dessa forma, o artista valorizou em suas obras temáticas de caráter realista voltados para a construção da identidade nacional”.

Di Cavalcanti analisou o que se passava em seu tempo – e em seu país – e resolveu figurar suas percepções de maneira crítica, através de seus desenhos. Veja abaixo imagens de dois de seus trabalhos produzidos com tinta nanquim sobre papel.

Figura 2: “A Realidade Brasileira”, Di Cavalcanti, 1930, USP. Foto: Fábio Praça. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
Figura 3: “A Realidade Brasileira”, Di Cavalcanti, 1930, USP. Foto: Fábio Praça. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Qual a sua interpretação sobre esses desenhos? De 1930 – data em que a série de desenhos foi criada – até hoje, a situação do nosso país mudou? Se sim, quais foram essas mudanças?

Sugestão de atividade:

Observe e analise criticamente as situações, movimentos e reivindicações que acontecem em sua rua, bairro, cidade e país. Use o desenho para retratar seu entorno de forma criativa e descontraída. Não tenha medo de desenhar e de testar materiais diversificados para compor seu desenho. Lembre-se de que todos podem desenhar! Não se esqueça de fotografar sua criação e de compartilhar junto às suas percepções sobre o trabalho de Di Cavalcanti. Publique em suas redes sociais usando as hashtags #educativofcs #criarte e também marque @fcs.palaciodasartes no Instagram.

Referências:

A Realidade Brasileira. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: ˂https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra57983/a-realidade-brasileira˃. Acesso em: 14 mar. 2022.

A Realidade Brasileira. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: ˂http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra57932/a-realidade-brasileira˃. Acesso em: 14 mar. 2022.

BAUROKH, Paulo. Edith Derdyk. Youtube, 2008. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3RBfRv7m0So>. Acesso em: 15 mar. 2022.

CAPA do catálogo da exposição da Semana de Arte Moderna. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em:
˂http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra35342/capa-do-catalogo-da-exposicao-da-semana-de-arte-moderna˃. Acesso em: 14 mar. 2022.

DI Cavalcanti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: ˂http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa971/di-cavalcanti˃. Acesso em: 14 mar. 2022.

RIBEIRO, Tiago. Desenho. In: Mundo Educação UOL. Disponível em:<https://mundoeducacao.uol.com.br/artes/desenho.htm#:~:text=O%20desenho%20existe%20desde%20a,eram%20bastante%20utilizados%20em%20publicidade>. Acesso em: 14 mar. 2022.

Sobre a autora:

Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.