U) Ursula Tautz

Palavras chave: memória, saudade, videoarte e Ursula Tautz.

Bora falar de arte?

Na última publicação, conversamos sobre Tarsila do Amaral & Thereza Portes, artistas que, mesmo fazendo parte de gerações distintas, têm em seus processos criativos intercessões e diálogos. No texto desta edição, vamos ver possibilidades de olhar para as memórias e para nossos arquivos de saudades.

Ursula Tautz

De origem carioca, manauara e alemã, a artista Ursula Tautz questiona, em suas obras, as sensações de não pertencimento que a acompanham. Ocupar espaços, deslocar-se em busca de suas raízes, trabalhar com arquivos e materiais que nos dizem sobre o tempo: é assim que Ursula subverte a ordem dita natural das coisas em seu trabalho artístico. 

Em uma de suas pesquisas, intitulada “Atopo”, a artista investiga o que é estar no entre culturas e lugares, além de explorar a sensação de sentir-se estrangeira onde nasceu. Percorrendo as cidades da diáspora de sua família – Rio de Janeiro (RJ), Ullersdorf (Polônia) e Santa Cruz do Sul (RS) –, Ursula coleta vivências, encontros e memórias que a permitem longos desdobramentos em projetos e obras.  

Foto: Daniela Parampal

“Sobre saudades (Sem lembranças) para Televisores ou Saudações a Nam June Paik”

“Sobre saudades (Sem lembranças) para Televisores ou Saudações a Nam June Paik” (2014-2016) é uma obra que partiu de “Atopo”. Nessa videoinstalação, Ursula utiliza aproximadamente 18 aparelhos de televisão antigos, que ocupam três estantes de ferro e o chão. A disposição das televisões nos remete à obra do artista sul-coreano Nam June Paik (1932-2006), considerado o criador da videoarte como linguagem artística. 

Em todas as TVs, podemos ver o mesmo vídeo “Sobre saudades (Sem lembranças)” passando em momentos diferentes. As imagens de família em sequência apresentam sons imprecisos junto a uma montagem que impede a compreensão linear da narrativa. A atmosfera onírica da obra coloca em questão a construção das nossas memórias: “o que é meu, o que é coletivo que eu guardo?”, “a família em questão poderia ser a minha?”, “lembro de coisas que não vivi?”, “as mídias afetam nossas memórias?”. 

As perguntas que a obra dispara são inúmeras, mas fica a questão: “a saudade só habita o passado?”.

Foto: Daniela Parampal

Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.