V) Virginia de Medeiros

Palavras chave: narrativas, fabulações, existências.

Bora falar de arte?

Durante nossas conversas, o “Bora” tem apresentado artistas que buscam transpor os limites de fronteiras pré-estabelecidas por ordens hegemônicas. Com Ursula Tautz, o tempo é o caminho de pesquisa sobre suas raízes diaspóricas, presentes no trabalho de coleta de vivências e de memórias. Já com Virginia de Medeiros, encontraremos outras narrativas, que subvertem a ordem das imagens de padrões normativos. O “Bora” desta semana será com Virginia e suas “imagens-fabulosas”. 

Virginia de Medeiros

Natural da Bahia, mais precisamente de Feira de Santana, Virginia é uma artista das imagens sublevadas, dos microuniversos estereotipados, dos modos de existências ditos ilegítimos. Trabalha com processos de vidas. Transmuta as experiências imersivas em imagens. Cria, através da linguagem documental, da fotografia e do audiovisual, fabulações que suspendem a diferença entre o que é real e o que é imaginado. Propõe um território em que os indivíduos, para além de serem objetos de observação, são sujeitos da cena; sujeitos de suas imagens.

Caminhadas, estórias e lugares são laboratórios potentes para seu processo de criação. As caminhadas como possibilidades de descobertas; as estórias como formas ativas, vivas de existências; e os lugares como espaços insurgentes das dimensões históricas, sociais e simbólicas das cidades. E com isso, faz da arte um território de criação de novas formas de interação.

Fábula do Olhar

Em 2016, Virginia expôs o trabalho “Fábula do Olhar” (2012-2013) em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, na itinerância da 5a edição do Prêmio Marcantonio Vilaça. A série é composta de fotopintura digital e textos emoldurados.

Em “Fábula do Olhar”, a artista traz suas recordações das imagens de infância para dentro de seu universo de pesquisa visual, conjugando as memórias das fotografias coloridas à mão (fotopinturas) à realidade das pessoas em situação de rua, seus colaboradores.

Em um mês, Virginia de Medeiros instala um estúdio fotográfico em dois refeitórios destinados às pessoas em situação de rua; faz 21 retratos em preto-e-branco; colhe em vídeos as histórias dessas pessoas; convida o fotopintor Mestre Júlio dos Santos para intervir com fotopintura digital nos retratos, colorindo as imagens de acordo com a visão desses colaboradores. Com a pergunta-chave: “Como você gostaria de ser ou ser visto pela sociedade?” Os colaboradores, fabulando suas condições, tornam-se personagens. Disso surgem as “imagens-fabulosas”, que põem em suspensão os limites entre o real e o imaginado. Em exposição, essas fotopinturas estão ao lado de textos literários, contendo a apresentação desses personagens, a descrição de como eles vivem e o pedido de encomenda dessa “imagem-fabulosa”.

Essa proposta, assim como todo o trabalho artístico de Virginia, pode nos levar a romper com o olhar acostumado sobre algumas imagens do mundo. E com essa ação, nos colocar diante dele de modo distinto dos quais estamos habituados a nos ver. Fabular, ficcionar, inventar, criar uma outra forma de se viver nesse mundo e buscar compreender que as experiências humanas ultrapassam as ordens que segregam os modos de existências – linhas fictícias –, pois ver é uma fábula.

Fotoperformance: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.