X de Xícara

Objetos que se fundem ao corpo, congelados pela fotografia. A tensão entre o equilíbrio e a queda.

A arte nos convida a um encontro que abre possibilidades, pensamentos e vivências. Para expandir nosso horizonte, estamos criando um glossário de A-Z de objetos poéticos nas artes visuais, a partir de uma curadoria de artistas e obras do contexto atual. Estamos na penúltima letra, o “X”.

Bora falar de arte?

Foto: Daniela Parampal

Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “V” de vestido e conhecemos a obra da artista Julia Panadés, que nos convida a adentrar o universo dos tecidos, do feminino e da poesia.

Hoje vamos com a letra “X” e o objeto escolhido é a xícara.

Xícara

Recipiente usado para bebidas quentes, que possui uma asa para segurá-lo sem queimar as mãos. Também é utilizado como uma medida muito comum em receitas culinárias.

Pequena para o café, grande para o chá ou para o leite com chocolate. Pode ser de vidro, porcelana, alumínio, cerâmica, prata ou esmaltada. São muitas as formas, os materiais e as funções para esse objeto tão comum em nossas casas.

Será possível usar a xícara para criar obras de arte?

Foto: Daniela Parampal

Nino Cais

Nino Cais se apresenta como um artista que trabalha com ideias. Os suportes em que sua arte acontece são variados: fotografia, vídeo, escultura, colagem, performance… E o que mais surgir à mente para dar concretude a essas ideias.

Sua pesquisa gira em torno dos objetos cotidianos e como eles afetam nossos corpos (e vice-versa). Para Nino, existe um objeto para cada incapacidade humana, por exemplo: se não consigo partir um pão só com as mãos, eu uso uma faca. Assim, os objetos tornam-se parte de nós e de nossas incompletudes.

Foto: Daniela Parampal

Espetáculo (2012)

Em 2012, Nino participou da 30ª Bienal de São Paulo, onde ocupou um espaço com trabalhos produzidos entre 1999 e 2012. Esse local abrigou a exposição Espetáculo, que, como o nome se refere, falava do encontro das obras marcado pela temporalidade de um início e um fim (abertura e encerramento da Bienal), único momento para ver aquelas obras reunidas. O clima de um espetáculo foi ampliado pela escolha de criar uma espécie de cortina de teatro no alto das paredes, circulando todo o espaço expositivo. Essas cortinas eram feitas de chita e também traziam o aconchego de lar.

Muitos dos trabalhos apresentados foram produzidos com objetos da casa do artista. Em uma série de fotografias, ele colocou tais objetos sobre seu corpo, como se estivesse sendo engolido por eles ao mesmo tempo em que os sustentava. Outros trabalhos eram como esculturas de objetos apresentados em situações não usuais, como um conjunto de mesas empilhadas e no topo delas um vaso de flores.

Nesse espaço do Espetáculo, além das cortinas no alto da parede, havia uma sequência de marretas presas por fios e apoiadas sobre xícaras muito delicadas, que chamava a atenção. As marretas, com seus pesos, sustentavam as xícaras soltas para que não caíssem. Isso criava um jogo de equilíbrio e oposição (pesado-delicado, preso-solto), que dizia respeito a uma tensão entre as coisas, ao que está no meio, a um silêncio que acontece… Como um nó, que quanto mais aperta, mais silencia.

Até onde se pode ir? Qual o limite da existência?

Foto: Daniela Parampal

Você conhece algum outro artista que também usou xícaras em suas obras? Pensou em outro objeto com a letra “X”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando as hashtags #borafalardearte e #educativofcs, e também @fcs.palaciodasartes no Instagram.

Na próxima publicação, vamos conversar sobre um objeto com a letra “Z” e refletir sobre nossa relação com ele, além de conhecer um artista que trabalha com esse objeto. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Para curiosos:

Baixe o portfólio de Nino Cais na galeria Casa Triângulo.

Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? V de Vestido.

Acesse o Instagram da Fundação Clóvis Salgado.

Ilustração: Daniela Parampal

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.