X) Xepa

Palavras chave: desenho, performance e coletivo.

Bora falar de arte?

Seguimos com o Bora falando de artistas que compõem o cenário da arte contemporânea. Construindo um pequeno acervo, o Bora vai se despedindo desta edição de nomes de artistas, restando as letras Y e Z para as próximas semanas. Entretanto, como o alfabeto de nomes ainda não terminou, vamos lembrar um pouco de Wanatta Rodrigues, artista que trabalha com o risco na cidade pelo grafite. Nascido no Alto Vera Cruz, o artista trata, em sua poética, das questões étnico-raciais, tendo a rua como laboratório: um espaço de criação, memória e resistência. Seguindo este fluxo, com o céu aberto de Minas, nas ruas – um cenário artístico para deflagrar várias poéticas – o coletivo Xepa segue neste movimento, desenhando nos espaços da cidade de Belo Horizonte.

Desenho: Mara Tavares

Xepa – coletivo de estudo disso tudo 

O Xepa foi fundado em 2005, em Belo Horizonte. Idealizado e dirigido por Marcelino Peixoto e Viviane Gandra, tem como princípio intervir nos espaços urbanos sob vários formatos. Desenho, performance, vídeo são suas principais linguagens artísticas – e tudo o que pode a xepa da criação.

Fazer com o que se tem; trazer do excedente a matéria em movimento; criar instâncias de desaceleração e aproximar a ação da prática do ateliê: estas são algumas linhas de condução que circunscrevem o movimento do coletivo.

Um desenho como um gesto que trabalha com o risco do lápis, um rastro. Um desenho que se expande, uma manifestação estética, uma linguagem expressiva, uma interferência na superfície. Esta matéria – o desenho – construída no ateliê. Esse que foi transformado à medida que o artesão seguia seu curso como artista; na medida em que se transformava a ideia de um lugar de criação em muitos lugares – uma heterotopia. É no ateliê que o desenho acontece em matéria e materiais; com um corpo presente e atento aos gestos, à respiração, aos músculos; em um tempo em concentração e efêmero – talvez o desenho nasça dessa performatividade, desse estado simples, ancestral e presente.

Desenho: Mara Tavares

Ação de desenhar o que resta (2015)

Dos intervalos entre os silêncios e os ruídos. Do tempo do surgimento do desenho ao rastro. Da concentração dos corpos em estado de presença às efemeridades dos gestos. Essas impressões podem surgir a quem acessa a página do projeto sobre a Ação de desenhar o que resta. Nela, os artistas Luis Arnaldo e Marcelino Peixoto convergem o ato de desenhar e o ato de performar para “linhas de fugas”, para um estado de criação.

Neste processo, que dura um mês, o lugar expositivo – Galeria de Arte GTO do Sesc Palladium – se transfigura em um canteiro de obras onde os artistas realizam seus trabalhos. O projeto apresenta duas ações: Restar e Desenhar o que resta. Na primeira, entendida como abertura, Restar tem a ação de erguer paredes e colunas até o limite de suas estruturas, até o momento da queda. Trabalho silencioso e cíclico que dura o tempo de construir com três mil tijolos (3.000) uma edificação da imagem da ruína, uma vez que as constantes quedas dos tijolos deixam apenas a poeira, os escombros e os rastros dessa ação. Em seguida, Desenhar o que resta é feito com lápis em grafite – em diversas durezas – nas paredes da galeria. Desenha-se, de forma coletiva, os escombros projetados da ação da abertura. Neste tempo, o corpo participa, se coloca e age sob diferentes instâncias de gestos: trazer os tijolos para galeria, erguer as estruturas, estar na queda – entre poeiras e sons –, apontar os lápis, ver as projeções nas paredes, desenhá-las, pintá-las, ver o que resta.

Um projeto que propõe aproximar o fazer cotidiano de um canteiro de obras ao trabalho do artista. Um projeto que te convida a ler e a assistir aos vídeos do que ficou e do que não pode ser visto…

Desenho: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.