W) Wanatta Rodrigues

Palavras-chave: grafite, retrato e ancestralidade.

Bora falar de arte?

Estamos perto do finalzinho do nosso inventário e nesta semana chegamos à letra “W”, de Wanatta Rodrigues, mas antes vamos relembrar Virginia de Medeiros. Na publicação passada, falamos que Virginia cria um universo de “imagens-fabulosas”, frutos da relação que tem com experiências imersivas, em que seu corpo se lança em diálogo com outros modos de existências. Assim como Virginia, Wanatta faz da cidade seu maior laboratório.    

Wanatta Rodrigues

Artista visual, licenciado pela Escola Guignard (Universidade Estadual de Minas Gerais), arte educador, produtor cultural e grafiteiro, Wanatta Rodrigues é um expoente no cenário artístico de Belo Horizonte. Nascido no Alto Vera Cruz, ramifica suas raízes por toda a cidade. Construindo territórios, ressignificando lugares e deslocando espaços, ele provoca um sismo na geografia belo-horizontina ao intervir na paisagem urbana.

Com cores saturadas, com seus azuis e rosas, vai mudando a escala de cinza da sociedade e revelando outros símbolos e outras letras LGBTQIA+, outras existências a participarem desse movimento. Quando lança seus riscos na comunidade em que nasceu, abre a lata imaginária sobre o que é o Alto Vera Cruz e, com a parceria de amigos, faz da “ilha brasileira” o lugar mais alto para ser visto novamente pela cidade – o projeto Morro de Arte Mural é um grande exemplo. Ao deslocar os eixos centro e periferia nas artes, entra em espaços circunscritos, traz a rua para as galerias e faz galerias abertas, efêmeras, no meio das ruas, movimentando e circulando com imagens, conceitos e símbolos.

Além disso, transmite seus conhecimentos como arte educador para jovens encarcerados e em situação de risco, atuando em penitenciárias, na comunidade onde mora, em instituição para meninas. Construindo, assim, um espaço de diálogo em que possam compartilhar, discutir, refletir e encontrar suas vozes, pensando na relação consigo mesmo e com o outro.

Em seu processo artístico, Wanatta vem com sua ancestralidade diaspórica, africana; com os artistas do Alto; com as referências de sua comunidade, transformando e enraizando em muros, prédios e galerias o seu grafite. Dentro de sua poética, o desenho, a pintura, a fotografia e o grafite são as linguagens por meio das quais Wanatta nos faz ver suas imagens. A rua é seu laboratório: Praça Sete, movimento soul, movimento hippie, MCs, dançarinos de break, grafiteiros, DJ`s, Escola Guignard vão se misturando na sua lata de spray, lançados em gotículas pelo ar, fixando-se em um grande painel urbano, social e simbólico. Um olhar atento às questões étnico-raciais – com cores que afirmam a presença negra e periférica –, cria no espaço urbano um território consagrado à ancestralidade diaspórica e à presença majestosa de corpos negros na cidade, inscrevendo, assim, a filosofia Sankofa – “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro” – no acervo a céu aberto de Belo Horizonte e pelo mundo.

Ilustração: Mara Tavares

Exposição MurRo

Em 2018, no Palácio das Artes, Wanatta participou, juntamente com os artistas Denis Leroy, Hyper, Goma, Gud, Mujer e Sérgio Ilídio, da exposição coletiva MurRo , que teve o grafite como linguagem em evidência.

Considerada uma potente forma de expressão dentro das artes plásticas e visuais, a exposição de grafite trouxe o gesto da pintura urbana, com suas tintas spray, seus riscos, pixos e suas imagens pintadas diretamente na parede, revelando em críticas visuais as questões sociais. O público podia acompanhar todo o processo – em um site especific – de transformação do espaço no decorrer da ação.

Wanatta pinta retratos de pessoas negras com cores vibrantes e texturizadas, criadas a partir de um processo de pesquisa de traços faciais, compondo mapas visuais de seres afrofuturistas presentes em corpos da comunidade e em corpos africanos, num encontro de estéticas e nos deixando face a face com essa presença.

Ilustração: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.