Dedicada a duas das figuras mais emblemáticas do cinema clássico norte-americano, a mostra “Marilyn Monroe & Billy Wilder: O Encanto Ácido de Hollywood” reúne títulos da estrela e do consagrado diretor e roteirista, incluindo tanto as produções realizadas em parceria quanto as desenvolvidas de forma independente. A aproximação de suas trajetórias não apenas revisita títulos consagrados, mas reinscreve ambos no debate contemporâneo sobre autoria, performance, imagem pública e as engrenagens da indústria cultural.
Ao longo das últimas décadas, Marilyn Monroe consolidou-se como uma das figuras mais reconhecíveis da cultura. Contudo, sua projeção não se explica só pelo impacto de sua imagem, mas pela maneira como essa imagem foi construída e reelaborada em diferentes etapas de sua biografia. Essa mostra permite recuperar a dimensão artística de sua performance, frequentemente eclipsada pelo ícone que ela se tornou.
Nos filmes selecionados, é possível ver o timing cômico e a sensibilidade dramatúrgica que contrastam com leituras redutoras e superficiais de sua persona. A presença da atriz, associada ao glamour hollywoodiano, evidencia também os mecanismos que estruturavam o star system: a fabricação de astros como signos destinados a atender tanto às demandas do mercado quanto às expectativas de um público global. Revisitar sua trajetória é, portanto, revisitar o modo como a indústria mobiliza corpos, imagens e narrativas para produzir símbolos.
Billy Wilder, por sua vez, ocupa posição central na história do entretenimento por sua capacidade de conciliar a precisão formal e um olhar crítico sobre a sociedade. Sua obra, que perpassa a comédia, o drama e até mesmo o film noir, responde não apenas às convenções de cada gênero, mas às transformações sociais do século XX. E as transformações do próprio cinema: Wilder é um dos diretores que ajudou a demonstrar todo o potencial que a sétima arte possui para contar histórias.
Sua parceria com Monroe, uma das mais emblemáticas do período clássico, nasce nesse cenário: o encontro entre um cineasta que compreendia profundamente o funcionamento do espetáculo e uma artista cuja presença sintetizava os desejos e contradições desse mesmo espetáculo.
Revisitar Monroe e Wilder é retornar a um ponto-chave da cultura audiovisual e reconhecer, nesse encontro entre charme e ironia, o modo como o cinema ergueu símbolos que ainda organizam nossa relação com as imagens. Em um presente marcado por excesso, velocidade e dispersão, suas obras oferecem uma espécie de eixo: lembram que a construção do ícone, a afirmação do autor e a lógica da indústria não são apenas processos históricos, mas forças que continuam a moldar nossa maneira de ver e de desejar. Ao aproximá-los, esta mostra não só recupera duas trajetórias decisivas, mas cria um espaço de reflexão sobre aquilo que, mesmo atravessado pelo tempo, continua a nos dizer quem somos diante da tela.