M de Mesa

Uma mesa posta; no lugar do alimento, terra, água e brotos germinando. A mesa da cozinha ocupada por “fatias” de argila. Uma escultura que nasce no tampo de uma mesa. Muitas vezes a arte nos convida a refletir e a questionar a forma como temos olhado para as coisas do mundo. Ver por outro ângulo é animador, mas também pode nos deixar com dúvidas ou inseguros das nossas percepções. Para abrir mais possibilidades e pensar sobre o assunto, estamos criando um glossário de A-Z de objetos poéticos nas artes visuais, realizando uma curadoria de artistas e obras no contexto atual.

 

Bora falar de Arte?

Foto: Daniela Parampal.

 

Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “L” de linha e conhecemos um pouco da pesquisa da artista Edith Derdyk  e de seus trabalhos com linhas no espaço.

A letra de agora é o “M” e o objeto escolhido é a mesa.

 

Mesa

A mesa é um móvel composto por um tampo horizontal apoiado sobre um ou mais pés. Pode ser redonda, quadrada, retangular, de centro, de jantar, de estudos e outras mais. Sua capacidade de abrigar encontros e ações é o que dá função a esse objeto. Nela, nós nos juntamos para confraternizar, fazer reuniões, trabalhar, alimentar, estudar; construímos coisas, firmamos contratos, jogamos, costuramos e também guardamos coisas antes delas irem para seus devidos lugares. As mesas também abrigam em suas superfícies os vestígios deixados pelas histórias vividas ali: a marca de um copo, uma escrita que saiu do papel, a mancha de vinho que caiu na última festa.

Muitos artistas perceberam as poesias e reflexões ao redor das mesas e sobre elas, objeto cotidiano que passa despercebido na maioria das vezes. O que colocamos nas nossas mesas?

 

 Foto: Daniela Parampal.

 

Anna Maria Maiolino

Anna Maria Maiolino nasceu na Itália e imigrou para o Brasil em 1960, aos 18 anos. Aqui se formou como artista, incorporando as influências da arte brasileira. Ela produz em diferentes suportes, como a escultura, a instalação e a fotografia, mas iniciou sua pesquisa com a gravura, explorando as superfícies e os contrastes que o meio proporcionava, conceitos que se mantiveram em sua produção. Anna se define como uma trabalhadora.

 

Arroz e Feijão (1979 – 2007)

Em 1979, Anna Maria Maiolino criou a instalação Arroz e Feijão no Rio de Janeiro, em um espaço gerido por artistas independentes. A obra era composta por uma mesa de jantar forrada com toalha preta ao centro da sala, sobre ela talheres, copos e seis pratos brancos, dentro deles um punhado de terra brotando sementes de feijão e de arroz. Nos cantos da sala, quatro mesas cobertas com toalhas brancas onde as pessoas comiam arroz e feijão conversando temas variados. Esse alimento é a base da dieta do brasileiro. Nas paredes, havia grafites fazendo referências ao terço da população que tinha condições de se alimentar, aos outros dois terços isso não era possível.

A semente resiste, e à mínima possibilidade de nascimento ela germina e floresce, assim como a vida. Essa mesa vazia e sombria, desvirtuada de seu lugar de união e partilha, diz desse vazio da escassez, que é revertido com o prato cheio de vida em potência. Anna conta que em Arroz e Feijão gostaria de falar de um medo do futuro, do fato de não saber como as coisas iriam caminhar no Brasil que ainda vivia tempos de ditadura.

A instalação foi remontada em outras ocasiões após a reabertura democrática, como na 29º Bienal de São Paulo. Dessa vez, com uma mesa bem maior e sem a participação do público; no lugar dela um vídeo mostrava uma boca se alimentando.

 

Foto: Daniela Parampal.

 

Você conhece algum outro artista que também usou mesas para dar sentido aos seus trabalhos? Pensou em outro objeto com a letra “M”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando as hashtags #borafalardearte e #educativofcs, e também @fcs.palaciodasartes.

Semana que vem, vamos conversar sobre um objeto com a letra “N” e refletir sobre nossa relação com algum objeto do cotidiano, além de apresentar um artista que trabalha com ele. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

 

Ilustração: Daniela Parampal.

 

Para curiosos:

Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? L de linha

Acesse o Instagram da Fundação Clóvis Salgado

Conheça mais sobre a pesquisa de Anna Maria Maiolino aqui

 

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.