SESSÃO EXTRA | Espetáculo “Aqueles Dois” - Cia Luna Lunera

15/03/24 - 01/04/24

Teatro João Ceschiatti

Foto: Lu Barcelos

Um dos trabalhos mais longevos da Cia. Luna Lunera, o espetáculo, inspirado no conto de Caio  Fernando Abreu, fala sobre relações afetivas, preconceito e intolerância. A montagem estreou  em 2007, já foi apresentada em 25 estados brasileiros e 8 países. No retorno à capital mineira,  fará temporada na Sala João Ceschiatti, de 15 a 31 de março. 

O celebrado espetáculo “Aqueles Dois”, da Cia. Luna Lunera, volta à cena teatral de Belo  Horizonte. Inspirada no conto homônimo de Caio Fernando Abreu (1948-1996), a peça narra a relação entre Raul e Saul, dois funcionários de uma repartição que compartilham o ambiente de trabalho burocrático e monótono e ali desenvolvem laços afetivos. A versão para o teatro  da Luna Lunera estreou em novembro de 2007 e construiu uma ampla trajetória nacional e  internacional. O espetáculo circulou por 25 diversos estados brasileiros e se apresentou por  países como México, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Venezuela, Uruguai e Portugal. Agora, após um hiato de 5 anos, a peça retorna à capital mineira, onde cumpre temporada de  15 a 31 de março, na Sala João Ceschiatti – Palácio das Artes. Os ingressos custam R$40,00  (inteira) e R$20,00 (meia-entrada) e podem ser adquiridos na bilheteria do Palácio das Artes  ou no site EVENTIM. 

A temporada de “Aqueles Dois” integra a projeto de manutenção da Cia. Luna Lunera em  2024, que contará também com as apresentações de outros dois espetáculos de repertório da  cia: “E Ainda Assim se Levantar” e “Urgente”. Este projeto tem o patrocínio da MGS e é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Aqueles Dois” 

Da rotina de uma “repartição” – metáfora para qualquer ambiente inóspito e burocrático de  trabalho, revela-se o desenvolvimento de laços de cumplicidade entre dois de seus novos  funcionários, Raul e Saul. É que “num deserto de almas também desertas, uma alma especial  reconhece de imediato a outra”. No entanto, essa relação acaba gerando incômodo nos  demais colegas de profissão. No espetáculo, Cláudio Dias, Guilherme Théo, Marcelo Soul e  Odilon Esteves (elenco desde 2010), dialogam com questões atuais como solidão, desilusões, preconceito e intolerância. Em cena, os atores revezam-se nos papéis de Raul e Saul, narram  trechos, sugerem os outros personagens da “repartição” e inserem suas próprias referências e  leituras para o texto de Caio Fernando Abreu. 

“Aqueles Dois é um trabalho que completa 17 anos em cartaz. A história de dois amigos que se  conhecem em ambiente árido de trabalho e que por causa desse laço de amizade sofrem  homofobia. Um texto sempre atual, que já percorreu por mais de 20 capitais brasileiras,  diversas cidades do interior do país, e que já foi apresentado em países da América Latina, em 

espanhol. É um trabalho que conquista o público por onde passa. Uma história tão linda e  delicada e ao mesmo tempo tão necessária”, sublinha Cláudio Dias. 

“O espetáculo, além de tratar do preconceito, fala também de solidão e de afeto. O texto toca  muito na possibilidade de conhecermos alguém, seja um amigo, um amor, mas alguém que  faça a vida da gente vibrar em uma relação recíproca. Desde que o espetáculo estrou, muita  coisa em relação ao preconceito por orientação sexual no Brasil mudou, e me arrisco a dizer  que mudou muito quase que no mundo inteiro. Mas, ao mesmo tempo, a gente ainda se  depara com o conservadorismo, com a sociedade tentando voltar as coisas para como eram antes. Em outubro do ano passado, por exemplo, teve projeto de lei que proíbe o casamento  de pessoas com o mesmo sexo. O texto ainda será analisado, mas é um retrocesso imenso se  isso for implementado. Então, é preciso ser vigilante e combativo. E acredito que o espetáculo  Aqueles Dois vem cumprindo esse papel”, diz Odilon Esteves. 

O conto “Aqueles Dois” foi publicado em sua primeira versão em “Morangos Mofados”  (Brasiliense, 1982), como parte de “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século” (curadoria  de Italo Moriconi, Objetiva, 2000). Nele, como praticamente em toda produção literária de  Caio Fernando Abreu, são múltiplas as citações ou simples menções a artistas e obras de áreas  diversas, locações urbanas, letras de músicas, filmes, épocas, onde o autor mistura,  despudoradamente, seus mundos biográfico e ficcional. 

A versão para teatro criada pela Cia Luna Lunera nasceu em 2007, dentro do projeto  Observatório de Criação – que coloca à mostra os novos processos criativos da companhia, em  sessões abertas ao público. Na primeira fase, foi realizado internamente um grupo de estudos  sobre Contato Improvisação (técnica corporal criada por Steve Paxton) e o Método das Ações  Físicas e Vocais (desenvolvido por Stanislavski), tendo Cláudio Dias e Odilon Esteves como  mediadores. “Estávamos trabalhando em treinamentos de atuação, onde cada um pudesse  contribuir de alguma forma. Cláudio Dias havia trazido uma pesquisa corporal e de jogos  espaciais e Odilon Esteves tinha proposto um trabalho de texto a partir de ações vocais. E a  partir desses primeiros improvisos a gente entendeu que havia ali a possibilidade de um  espetáculo e nós mesmo poderíamos cuidar da direção, e que pela primeira vez seria uma  direção compartilhada. Nesse momento, eu resolvo não estar mais na atuação e passo a ser  uma espécie de um olhar externo dentro do trabalho. Chamamos, então, Rômulo Braga para  compor a equipe e, partir daí, nós cinco, cada um com o seu olhar, com as suas contribuições,  propusemos tanto ações de direção quanto de roteiro”, relembra Zé Walter Albinati. 

Marcelo Soul relembra que o processo de criação do espetáculo contou, ainda, com a  contribuição do público interessado, presente a cada sessão aberta do Observatório de  Criação, cujos feedbacks funcionaram como autênticos norteadores e ainda se renovam ao  longo de novas temporadas. “A presença do público foi muito importante. A cada 15 dias  abríamos o projeto para pessoas, em um ensaio aberto, e apresentávamos o material produzido até então, para que elas pudessem conversar e opinar abertamente sobre o que  tinham assistido e como o trabalho chegava até elas. Consideramos o público, que compôs o  Observatório de Criação, como cocriador do espetáculo.”

Trajetória do espetáculo

“Aqueles Dois” estreou em novembro de 2007, em Belo Horizonte, e construiu uma ampla  trajetória desde então. Foi apresentado em importantes festivais nacionais e internacionais no  Brasil (Festival de Curitiba/PR; FIT-BH – Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo  Horizonte/MG; Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto/SP; Fiac – Festival  Internacional de Artes Cênicas da Bahia – Salvador/BA; Festival Recife do Teatro Nacional – Recife/PE; Festival de Agosto – Natal/RN; Festival Nacional de Teatro de Presidente  Prudente/SP; Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília/DF; FESTILIP  – Festival de Teatro da Língua Portuguesa – Rio de Janeiro/RJ). Cumpriu longas temporadas no  Sesc São Paulo/SP (2008), e no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro/RJ (2010). Circulou por diferentes estados brasileiros por meio do Sesc Palco Giratório e pelo Circuito  Eletrobras – Eletronorte/Chesf.  

Em 2010, estreou a sua versão em espanhol, em Santiago de Querétaro, México, e, desde  então, vem realizando ampla trajetória internacional, tendo se apresentado em importantes  festivais internacionais, dentre eles FIBA (Argentina), Festival de Teatro de Manizales  (Colômbia), Festival Internacional de las Artes (Costa Rica), Festival Internacional de Artes  Escénicas (Panamá) e Festival Internacional de Teatro Progresista (Venezuela) por duas  ocasiões. Também foi apresentado no Uruguai e em Portugal. 

Foi contemplado no 13º Prêmio Sesc-Sated/MG nas categorias Espetáculo e Direção; no 5º  Prêmio Usiminas-Sinparc nas categorias Espetáculo, Direção e Ator (Rômulo Braga); foi  indicado ao Prêmio Shell São Paulo 2009 nas categorias de Direção, Cenário e Iluminação,  tendo recebido este último. Foi considerado espetáculo destaque em festivais na Argentina, no  Uruguai, na Colômbia e na Venezuela 

CIA. LUNA LUNERA

Desde a fundação, em 2001, a premiada Companhia Luna Lunera reúne nove trabalhos no repertório – Perdoa-me por me traíres” (2001), “Nesta data querida” (2003), “Não Desperdice sua única vida ou…” (2005), “Aqueles dois” (2007), “Cortiços” (2008), “Prazer” (2012), “Urgente” (2016), “E ainda assim se levantar” (2019) e “Aquela que eu (não) fui” (2023). A Cia. realizou mais de 1.000 apresentações de seus espetáculos por todo o território nacional e em países como Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, França, México, Panamá, Portugal, Uruguai e Venezuela, atingindo um público aproximado de 200 mil espectadores. O grupo compartilha, permanentemente, seus processos criativos por meio de debates e do Observatório de Criação, ministrando oficinas e o Curso In Cena, atuante na formação de uma diversidade de artistas da nova geração.

FICHA TÉCNICA

Texto: Caio Fernando Abreu. Diretores/Criadores: Cláudio Dias, Marcelo Soul, Odilon Esteves,  Rômulo Braga e Zé Walter Albinati. Em cena: Cláudio Dias, Guilherme Théo, Marcelo Soul e  Odilon Esteves. Relator do Processo: Zé Walter Albinati. Workshop de Ações Vocais: Odilon 

Esteves. Workshop de Contato Improvisação e Viewpoints: Cláudio Dias. Workshop de Voz e  Arranjo Vocal: Zé Walter Albinati. Cenário e Figurino: Núcleo de criadores do espetáculo.  Consultoria de Figurino: Carla Mendonça. Iluminação: Felipe Cosse e Juliano Coelho.  Coordenação de Produção: Mariana Rabelo. Coordenação Geral: Cláudio Dias. Produção: Cia.  Luna Lunera. 

Informações

Local

Teatro João Ceschiatti

Horário

sextas e sábados, às 20h, e domingo, às 19h

Duração

90min

Classificação

16 anos

Informações para o público

(31) 3236-7400