O real e o imagético nas fotografias de Pedro Motta
Pedro Motta é natural de Belo Horizonte (MG) e possui graduação em desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O processo de criação do artista envolve pesquisas e também experimentos com imagens por meio da manipulação digital, abordando temáticas variadas como, por exemplo, a natureza e as alterações nas paisagens como consequência da ação humana.
Em 2017, Motta realizou a exposição “Estado da Natureza” na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais da Fundação Clóvis Salgado, apresentando 70 obras, incluindo objetos e fotografias. Em algumas séries de fotografias o artista utilizava manipulação digital em paisagens naturais de Minas Gerais, como o Rio das Mortes na região do Campo das Vertentes, e de florestas colombianas. Ao registro desses lugares são acrescidas imagens que podem causar estranhamento e, somadas às demais imagens da exposição, compõem as sete séries que retratavam as relações entre o ser humano e a natureza, misturando o natural e o ficcional.
Na série “Flora Negra”, por exemplo, o artista cria uma narrativa acrescentando, por meio da manipulação digital, desenhos baseados em personagens de filmes do diretor alemão Werner Herzog, como Fitzcarraldo e Aguirre, a Cólera dos Deuses. Em “Naufrágio calado”, barcos são inseridos em paisagens de uma região específica da Bretanha. Em “Sumidouro”, registros do Rio das Mortes, em São João del-Rei (MG), recebem buracos criados digitalmente. As modificações nas imagens provocam o olhar do espectador e despertam as percepções sobre o que é real e o que não é, nos fazendo refletir sobre a natureza e as transformações provocadas pela ação do homem.
Sobre o trabalho do artista, o curador José Roca nos diz: “fazendo uso de ferramentas digitais, Motta introduz o absurdo à paisagem, mas um absurdo que por alguns momentos parece plausível. Em um mundo digital no qual há consciência de que já não existe relação indicial entre a imagem e seu referente, a imagem adulterada pode parecer real, e a imagem real está sempre coberta por um véu de suspeita”.
Observe a seguir algumas imagens da exposição.
As imagens são reais ou devemos duvidar do que estamos vendo? O artista estaria nos provocando a refletir sobre alguma coisa?
Atualmente somos superexpostos a imagens por meio das mais diversas mídias. As notícias e os fatos relacionados às questões ambientais nos fazem pensar sobre o que estamos fazendo com o planeta e seus recursos naturais. Nas fotografias de Pedro Motta a paisagem se transforma, elementos misteriosos são introduzidos e como diz José Roca: “a oscilação entre verdade e verdade construída mantém no ar a atenção e exige um olhar atento, lento, consciente”.
Curiosidade:
O acervo de artes visuais da Fundação Clóvis Salgado possui um dos trabalhos de Pedro Motta da série “Naufrágio Calado”, uma obra que provoca nosso olhar e desperta reflexões sobre o que vemos e o que podemos ver.
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Referências:
Catálogo da exposição “Estado da Natureza”, CâmeraSete – Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Belo Horizonte/MG. Fundação Clóvis Salgado, 2017.
Estado da natureza – Pedro Motta. Disponível em: <https://www.secult.mg.gov.br/noticias-artigos/4073-em-estado-da-natureza-o-fotografo-pedro-motta-denuncia-acao-do-homem-sobre-a-paisagem>. Acesso em: 19 mai. 2022.
Pedro Motta – Estado da Natureza [AGENDA] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y3JSDZZ4gjg>. Acesso em: 26 mai. 2022.
Sobre o autor:
Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.