Os monumentos irônicos de Claes Oldenburg

Claes Oldenburg, artista sueco que se tornou referência da pop art, produziu obras que remetem à banalidade do cotidiano. Suas interferências nos espaços urbanos, por meio de instalações e monumentos em grande escala, diminuem o homem diante de produtos de consumo em um período em que o comportamento desenfreado de comprar coisas se tornava o marco do materialismo, do qual ainda colhemos frutos.

Em afinidade com as ideias de artistas modernos que coletavam e experimentavam suportes variados para a pintura, como madeiras de restos de construção, tecidos, lonas, folhas de jornais, entre outros, Oldenburg partiu desse ponto até chegar em projetos de esculturas em grande escala que representavam objetos ordinários, dando-lhes valor de coisas nobres. Em parceria com arquitetos e fabricantes, pôde realizar suas interferências urbanas e também criar objetos que desconstruíssem suas materialidades originais. Em sua série “Soft Sculptures”, formas rígidas de objetos como telefones, vasos sanitários e interruptores são traduzidas em formas maleáveis com costuras em PVC recheadas de espumas e em generosos tamanhos.

“Spoonbridge and Cherry”, Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen, 1988. Foto: Wendy Berry. Fonte: Flickr

Suas esculturas de coisas comuns se tornaram monumentos e estão espalhadas pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Nos anos 1970, o artista projetou uma de suas maiores obras, um enorme pregador de roupas feito de ferro que está instalado na Filadélfia. Zombando de uma sociedade que incentiva a acumulação, o enorme pregador, bem como a obra “Spoonbridge and Cherry”, de Oldenburg e Coosje van Bruggen, seria a entrega daquilo que a contemporaneidade desejava: monumentos regidos pela sede de modernidade e certa originalidade. Ao mesmo tempo, não seria uma provocação ao que estaria se tornando a sociedade contemporânea? Claro que sim! A ponte de colher é um chafariz em uma praça em Minneapolis, Estados Unidos. Existe um arquétipo em relação aos chafarizes que remete à arte clássica, às esculturas greco-romanas e a uma sofisticação herdada dos pátios de catedrais e dos jardins de grandes palácios. A cultura do mundo antigo priorizava a beleza e o intelecto, valorizava a essência de ser, a perfeição e a harmonia em busca do sublime. A instalação de Oldenburg e van Bruggen não só banaliza esse ideal de monumento, como ironiza quais são as questões relevantes na sociedade moderna, que prioriza as coisas em detrimento das pessoas.

Não se pode dizer que seus monumentos não sejam divertidos, interessantes e em certa medida belos. No entanto, escondido no ar galhofeiro que oferecem, está o alerta do que, realmente, tem se tornado importante na vida das pessoas.

Referência:

Imagem – “Spoonbridge and Cherry”, Claes Oldenburg e Coosje van Bruggen, 1988. Foto: Wendy Berry. Disponível em: ˂https://www.flickr.com/photos/twodolla/2544016560/˃. Acesso em: set. 2021.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.