Um Cão Andaluz: um filme para sonhar!

Na década de 1920 surge o surrealismo: movimento artístico que, inspirado pela abordagem psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939), cria narrativas baseadas no subconsciente e na representação dos sonhos. O movimento instiga os processos criativos não apenas nas artes plásticas, em que ficou mais conhecido, mas também em outras linguagens como na literatura e no cinema.

Expoente do surrealismo, o curta-metragem “Um Cão Andaluz”, de 1928, roteirizado pelo cineasta Luís Buñuel e pelo artista Salvador Dalí, possui elementos característicos do movimento, o que o configura como uma obra repleta de subjetividades, sem uma narrativa linear e aparentemente sem sentido.

O filme aborda sua história dando ênfase aos sentimentos, às emoções e aos instintos que, para os surrealistas, eram pontos de partida para a arte, uma vez que negavam os padrões clássicos de representação.

O surrealismo, bem como outros movimentos do século XX, buscavam novas estruturas artísticas que questionavam tanto as linguagens como a própria sociedade, existindo naquele tempo forte crítica à falência moral e intelectual europeia relacionada à Primeira Guerra Mundial. Diante de questionamentos sobre a burguesia e os padrões estéticos a ela ligados, os surrealistas buscavam romper com o estado atual das coisas dando destaque mais ao emocional do que ao racional. Faziam justaposições aleatórias de imagens, hibridismo de formas, recortes e colagens de elementos aparentemente sem correlação.

“Um Cão Andaluz” (filme mudo). Fonte: Wikiart

O filme “Um Cão Andaluz” embarca nesses conceitos e os traduz em imagens aparentemente desconexas, mas que propõem reflexões vigentes no período, como o moralismo religioso, que reprimia desejos, e a hipocrisia burguesa, que possuía condutas questionáveis.

Contendo cenas perturbadoras, como um olho de mulher cortado com lâmina, a produção causa estranheza. A cena partiu da imagem de um sonho de Buñuel, que enxergou uma nuvem pontiaguda cortando a lua cheia. Dalí, por sua vez, inseriu no roteiro a imagem de outro sonho que tivera: uma mão cheia de formigas.

O curta se inicia com a famosa frase “era uma vez”, o que retrata a ironia por trás da sua escolha, já que a produção propõe o oposto da forma narrativa linear de histórias infantis – contexto em que a frase é comum. Ao longo da sequência de imagens, Buñuel e Dalí nos convidam a nos permitir sair da zona de conforto e fazer associações dos cortes sem buscar lógica, direcionados pelo nosso inconsciente, como nos sonhos. São quase vinte minutos de puro delírio!

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Atenção: a classificação indicativa é de 14 anos.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.