U de Uniforme

Utilitários, móveis, retratos, roupas, calçados… Objetos que falam de um tempo e um universo específico, mas que se ampliam e dizem de todos nós.

A arte é um convite para conhecermos mais daquilo que está fora: outros lugares, pensamentos e formas. Ao mesmo tempo, ela nos leva para dentro de nós, experiências e lembranças que nos ajudam a compor a forma única de ver o mundo. Para expandir nossos saberes, estamos criando um glossário de A-Z de objetos poéticos nas artes visuais, a partir de uma curadoria de artistas e obras no contexto atual.

Bora falar de arte?

Foto: Daniela Parampal.

Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “T” de tesoura e conhecemos a obra Caminhando, da artista Lygia Clark, onde o ato de cortar um papel é a obra e a experiência do participante.

Hoje vamos com a letra “U”, e o objeto escolhido é o uniforme.

Uniforme

Uniforme, uma forma para todos. Usamos uniformes em muitas ocasiões da vida. A primeira delas provavelmente foi na escola, você e seus coleguinhas iguais. Os uniformes são muito úteis, roupas específicas para determinadas atividades. Não é preciso escolher qual roupa usar entre as muitas do armário e facilmente somos identificados em nossas atribuições: o vendedor da loja, o médico, o policial. O uniforme nos tira a individualidade e nos faz ser vistos como uma função.

Já pensou nisso? Quais uniformes você usa no seu cotidiano?

Foto: Daniela Parampal.

Élcio Miazaki

Élcio Miazaki vem desenvolvendo seu trabalho artístico há alguns anos. Entre os temas que o interessa estão a memória, o patrimônio, o cotidiano e a ausência. Para falar desses assuntos, seja em vídeos com atores encenando movimentos militares, seja em peças de roupas do mesmo universo, ele utiliza o corpo, que pode ser o de uma pessoa ou objetos que façam referência a esse.

A coleta de objetos antigos e a reconstrução deles têm sido interesse recorrente na prática de Élcio. E foi partindo desse gesto que, em 2019, a exposição Impulsos imitativos aconteceu na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (espaço expositivo da FCS, localizado na Praça Sete). Na exposição, o artista criou narrativas com objetos, peças de uniformes e fotografias do universo militar.

Foto: Daniela Parampal.

Impulsos imitativos (2019)

A exposição Impulsos imitativos tratou de pontos de coincidência entre mundos aparentemente distintos: o militar e o civil. O artista fez isso para falar das incertezas e da melancolia. Élcio partiu do interesse por fotografias antigas de militares uniformizados com dedicatórias no verso para discutir a figura masculina, que se desenvolve pela reprodução do que já é dado e que não se revela em suas subjetividades.

Com esses objetos, adquiridos em sebos e antiquários, Élcio imprime pequenas modificações, como: um barbante envolvendo o rosto do soldado na fotografia ou o par de coturnos, cujo cadarço é amarrado unindo os dois pés e inviabilizando seu uso. Esses gestos são como jogos, que perpassam toda a exposição, apagando o caráter unicamente utilitário daqueles objetos.

No centro da galeria, um armário antigo com suas portas abertas deu ao espaço um aconchego de lar. Dentro dele, artigos de uma vida militar: megafone, flâmulas e o uniforme em suas diferentes peças (calça, camisa, botas, chapéu). A farda completa, guardada, melancólica, à espera daquele que lhe dará vida novamente.  

Foto: Daniela Parampal.

Você conhece algum outro artista que também usou uniforme em suas obras? Pensou em outro objeto com a letra “U”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando as hashtags #borafalardearte e #educativofcs, e também @fcs.palaciodasartes.

Na próxima publicação, vamos conversar sobre um objeto com a letra “V” e refletir sobre nossa relação com ele, além de conhecer uma artista que trabalha com esse objeto. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Para curiosos:

Visite o site de Élcio Miazaki

Leia a carta em que Élcio Miazaki conta mais sobre a exposição: Cartas de Exposição: correspondências em tempos de isolamento social

Visite a CâmeraSete

Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? T de Tesoura

Acesse o Instagram da Fundação Clóvis Salgado

Ilustração: Daniela Parampal.

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.