Utilitários, móveis, retratos, roupas, calçados… Objetos que falam de um tempo e um universo específico, mas que se ampliam e dizem de todos nós.
A arte é um convite para conhecermos mais daquilo que está fora: outros lugares, pensamentos e formas. Ao mesmo tempo, ela nos leva para dentro de nós, experiências e lembranças que nos ajudam a compor a forma única de ver o mundo. Para expandir nossos saberes, estamos criando um glossário de A-Z de objetos poéticos nas artes visuais, a partir de uma curadoria de artistas e obras no contexto atual.
Bora falar de arte?
Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “T” de tesoura e conhecemos a obra Caminhando, da artista Lygia Clark, onde o ato de cortar um papel é a obra e a experiência do participante.
Hoje vamos com a letra “U”, e o objeto escolhido é o uniforme.
Uniforme
Uniforme, uma forma para todos. Usamos uniformes em muitas ocasiões da vida. A primeira delas provavelmente foi na escola, você e seus coleguinhas iguais. Os uniformes são muito úteis, roupas específicas para determinadas atividades. Não é preciso escolher qual roupa usar entre as muitas do armário e facilmente somos identificados em nossas atribuições: o vendedor da loja, o médico, o policial. O uniforme nos tira a individualidade e nos faz ser vistos como uma função.
Já pensou nisso? Quais uniformes você usa no seu cotidiano?
Élcio Miazaki
Élcio Miazaki vem desenvolvendo seu trabalho artístico há alguns anos. Entre os temas que o interessa estão a memória, o patrimônio, o cotidiano e a ausência. Para falar desses assuntos, seja em vídeos com atores encenando movimentos militares, seja em peças de roupas do mesmo universo, ele utiliza o corpo, que pode ser o de uma pessoa ou objetos que façam referência a esse.
A coleta de objetos antigos e a reconstrução deles têm sido interesse recorrente na prática de Élcio. E foi partindo desse gesto que, em 2019, a exposição Impulsos imitativos aconteceu na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (espaço expositivo da FCS, localizado na Praça Sete). Na exposição, o artista criou narrativas com objetos, peças de uniformes e fotografias do universo militar.
Impulsos imitativos (2019)
A exposição Impulsos imitativos tratou de pontos de coincidência entre mundos aparentemente distintos: o militar e o civil. O artista fez isso para falar das incertezas e da melancolia. Élcio partiu do interesse por fotografias antigas de militares uniformizados com dedicatórias no verso para discutir a figura masculina, que se desenvolve pela reprodução do que já é dado e que não se revela em suas subjetividades.
Com esses objetos, adquiridos em sebos e antiquários, Élcio imprime pequenas modificações, como: um barbante envolvendo o rosto do soldado na fotografia ou o par de coturnos, cujo cadarço é amarrado unindo os dois pés e inviabilizando seu uso. Esses gestos são como jogos, que perpassam toda a exposição, apagando o caráter unicamente utilitário daqueles objetos.
No centro da galeria, um armário antigo com suas portas abertas deu ao espaço um aconchego de lar. Dentro dele, artigos de uma vida militar: megafone, flâmulas e o uniforme em suas diferentes peças (calça, camisa, botas, chapéu). A farda completa, guardada, melancólica, à espera daquele que lhe dará vida novamente.
Você conhece algum outro artista que também usou uniforme em suas obras? Pensou em outro objeto com a letra “U”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando as hashtags #borafalardearte e #educativofcs, e também @fcs.palaciodasartes.
Na próxima publicação, vamos conversar sobre um objeto com a letra “V” e refletir sobre nossa relação com ele, além de conhecer uma artista que trabalha com esse objeto. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!
Para curiosos:
Visite o site de Élcio Miazaki
Leia a carta em que Élcio Miazaki conta mais sobre a exposição: Cartas de Exposição: correspondências em tempos de isolamento social
Visite a CâmeraSete
Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? T de Tesoura
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Sobre as autoras:
Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.
Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.